A bicicleta é usada em todos os continentes, por pessoas de todas as classes, religiões e cores. Inclusive em países onde a infraestrutura necessária está bem longe da ideal
O Fórum Mundial da Bicicleta aconteceu em Santiago, no Chile no comecinho de Abril, reunindo artistas, pensadores e urbanistas em torno da questão da bicicleta no mundo. Foi a quinta edição. A intenção do evento, que conta com o trabalho voluntário de entusiasta e cicloativistas de todo o mundo, é criar uma mudança positiva para usuários de bicicletas em todos os níveis: individual, local, regional, nacional e mundial. Não é pouco, e mostra o quanto a questão da bicicleta é pertinente no mundo.
Não faz muito tempo que a bici se tornou cerne de questões de urbanismo em São Paulo, mas a real é que, planeta afora, as duas rodas movidas por pernas são o meio de transporte mais utilizado da Terra. E, sim, é primeiro transporte e depois lazer. Apesar de usarmos cidades européias como os exemplos mais constantes, a bicicleta é usada em todos os continentes, por pessoas de todas as classes, religiões e cores. Inclusive em países onde a infraestrutura necessária está bem longe da ideal.
Nas ruas indianas, por exemplo, circulam carros, caminhões, ônibus, tuk tuks, vacas e pedestres. E também circulam bicicletas. Muitas bicicletas. Levadas pelos ingleses durante o Raj britânico, as bici são tão parte da paisagem da Índia quanto o chai fumengante ou crianças jogando críquete na rua. Tanto que é muito comum hotéis de qualquer categoria terem magrelas para emprestar para os hospédes.
Ainda na Ásia, a China é o país com a maior quantidade de bicicletas em uso no mundo. E as bici são largamente usadas em países do Sudeste Asiático como Indonésia, Tailândia e Camboja, tanto em cidades quanto em áreas rurais. No Japão as bicicletas também são parte da vida diária, para transporte ou passeios, principalmente as baratas e resistentes mamachari, ou “bicicleta mãe”.
Nos EUA, as bicicletas são bem menos populares que carros. Como em São Paulo, em Nova Iorque as faixas para ciclistas renderam reclamações, mas pegaram. E em São Francisco, o terreno íngreme pouco amigo do pedal é compensado pelo apreço dos californianos pela vida ao ar livre. As bicicletas também são vistas como uma forma de turismo, com estandes de locação perto de parques e pontes. Ainda na Costa Oeste dos EUA, Portland e Seattle são referência na integração de bicicletas e transporte público e os ônibus carregam bicis na frente ou na traseira. Mas nenhuma dessas cidades aparece no ranking anual da Copenhagenize, empresa multinacional especializada em mobilidade urbana. A única cidade norte-americana mencioada é Mineápolis, em Minesota: a terra natal do Prince é o atual modelo de uso de bikes para o resto da América.
A vasta maioria das cidades destacadas pelo Copenhagenize estão na Europa, onde a bicicleta encontra a melhor estrutura para funcionar no lugar de carros ou ônibus. A Holanda, referência mundial no assunto, tem mais bicicletas que gente, mas a implantação de ciclofaixas também foi polêmica antes de ser largamente adodata. Hoje, o país tem três cidades no top 10 do ranking mundial de cidades amigas do ciclista. Na Irlanda, cerca de 11% da população pedala diariamente entre casa e trabalho. Na Suíça (que não é um país plano) o número sobe para 23%. E na gelada Suécia, para 33%. Cidades grandes como Londres e Paris foram as primeiras a adotar serviços de bike share e, mesmo que já tenham um pouco mais de tradição no uso de bicicleta como transporte urbano do que São Paulo ou Rio, também têm seus problemas, como atropelamentos de ciclistas ou roubo das magrelas.
A única cidade latino-americana a figurar no ranking é Buenos Aires. Mas a capital da Colômbia, Bogotá, é a que mais investe em novos sistemas de transporte na América do Sul. As ciclorutas de Bogotá são esforço de pelo menos três prefeitos diferentes e levaram em consideração a topografia da cidade ao traçar uma rede de ciclorotas com alcance de norte a sul e leste a oeste. O desenho leva em conta a integração com os sistemas de ônibus e estacionamentos seguros para as magrelas. Um trabalho longo, mas que só dá certo se alguém começar.
Créditos
Imagem principal: Juan Felipe Rubio / Flickr