A protagonista da série 3% estreia como diretora em ”Elogio da liberdade” e revela seus cinco documentários preferidos
Em sua estreia como cineasta, a atriz Bianca Comparato decidiu contar a história da jornalista e escritora Rosiska Darcy de Oliveira, 75 anos, uma brasileira que passou a vida lutando pelos direitos das mulheres. "Ela me batizou diretora", conta Bianca. A atriz conheceu a história de Rosiska por meio de sua mãe, Leila Mendes, que tinha o desejo de fazer um documentário sobre a amiga. “Fui chamada para conversar e ajudar nesse processo e, quando vi, estava totalmente envolvida, li todos os livros dela”, lembra.
Seu documentário, Elogio da liberdade, estreou no canal MAX no emblemático 31 de março, que marca o Golpe Militar de 1964. Rosiska fez forte oposição à ditadura e denunciou casos de tortura contra presos políticos, o que resultou em seu exílio na Suíça por dez anos. De volta ao Brasil em 1983, atuou em diversas frentes feministas, incluindo projetos da ONU e UNESCO e escreveu mais de dez livros sobre o tema, como Elogio da Liberdade, que dá nome ao documentário. Desde 2013, ela é membro da Academia Brasileira de Letras.
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Depois da estreia como diretora, Bianca poderá ser vista neste ano na terceira temporada da série 3%, da Netflix (sem data de estreia), no longa de terror Morto não fala (previsto para agosto) e Intervenção (setembro), um drama de ação sobre as UPPs do Rio de Janeiro. No papo com a Tpm, a atriz fala sobre a direção de Elogio da Liberdade, reflete sobre as diferentes gerações do feminismo e revela seus cinco documentários preferidos.
Tpm. Você sempre quis dirigir?
Bianca Comparato. Na verdade, não. Esse filme aconteceu na minha vida sem que eu planejasse muito, mas adorei a experiência e quero continuar.
Qual foi a reação de Rosiska ao saber que você faria um documentário sobre ela? Ela quem me batizou diretora. Foram quase dois anos de encontros antes de começarmos a filmar. As conversas foram ficando cada vez mais intensas e um dia olhamos uma para outra e ela disse: “Por que você não dirige esse filme?”. Eu pensei: “Por que não?”.
O que você achou mais interessante sobre ela? Sua liberdade. Alguns exemplos: ela escolheu não ter filhos quando a sociedade exigia que ela tivesse uma família, embora tenha escolhido se casar — e está casada há mais de 50 anos com o Miguel. Escolheu ser escritora quando ainda não era uma profissão tão comum para uma mulher. Para Rosiska, liberdade é o direito de escolha em todos os aspectos da vida. Ela é a prova viva disso.
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Como você avalia sua experiência na direção? Foi um aprendizado profundo. Senti a responsabilidade de liderar uma equipe e também de inspirar outros artistas a fazer um mesmo filme. Não me via dando comandos específicos para o Inti [o fotógrafo], por exemplo. Contava o que estava imaginando para o filme e deixava ele traduzir isso para fotografia, para lente e enquadramento. Isso pra mim foi o lado mais humano do processo todo. O mesmo para a Jordana, nossa editora, e para Rosiska.
Que tipo de reflexão quis provocar com o documentário? Que a luta por liberdade é como um castelo de areia que você constrói, mas vem uma onda e destrói. O mais importante é continuar construindo o castelo. É uma mensagem também para a minha geração: que a gente não se intimide, não se deixe humilhar e não se apequene. Nós somos o momento atual de uma trajetória muito longa.
A história de Rosiska fez você repensar seu próprio feminismo? Sim, porque eu não tinha dimensão de que para eu ter a vida que tenho hoje, gerações antes da minha tiveram que lutar e muito. É como a Rosiska diz: “Hoje já não somos um movimento de mulheres, somos as mulheres em movimento”.
Quais diretoras de cinema te inspiram? Petra Costa, Julia Murat, Reed Morano, Nadine Labaki, Sofia Coppola... Nossa, são tantas!
Qual atriz você tem como referência? Natalie Portman. Uma mulher forte e talentosa que luta pela nossa voz com maestria.
Está trabalhando em qual projeto atualmente? Estou trabalhando no projeto de uma série nova, mas não posso falar. Prometo que será uma grande personagem feminina.
Os cinco documentários preferidos de Bianca Comparato:
Eu não sou o seu Negro (2017), de Raoul Peck
James Baldwin [escritor e ativista norte-americano que inspirou o documentário] é um ídolo para mim. Esse filme me fez pensar a situação racial de uma maneira potente. Obrigatório para entender o ódio e o medo. Além do Raoul Peck ser um grande documentarista.
Caixeiro-viajante (1969), dos Irmãos Maysles e Charlotte Zwerin
"Esse filme mudou o curso dos documentários, que, até então, eram mais observacionais, mostravam cenários da natureza. Os irmãos Maysles foram pioneiros em retratar o homem comum, seguindo sua vida e intimidade. Esse filme é um marco para mim, porque através da história de um caixeiro-viajante eles conseguem falar dos Estados Unidos inteiro."
Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho
"Um dos melhores documentários que já vi na minha vida. Coutinho é um mestre."
The Arbor (2010), de Clio Barnard
"Esse filme conta a história da escritora inglesa Andrea Dunbar. O que me impressionou foi o recurso que Barnard usou para encenar os áudios documentais que ela tinha: gravando atores em cena dublando. Impossível de explicar à altura, vale muito a pena assistir."
O.J.: Made in America (2016), de Ezra Edelman
"É um documentário [que narra a história do ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson, acusado de assassinar sua ex-mulher, Nicole Brown Simpson e Ronald Goldman, nos anos 90] dividido em cinco partes. Foi o filme mais longo a vencer um Oscar [em 2017]. Fala sobre racismo primordialmente, mas reflete sobre as consequências do lucro, do machismo e da mídia."
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