O que vou ser quando crescer?

por Lygia da Veiga Pereira

Segundo as projeções do Fórum Global Econômico, 65% das crianças começando a escola hoje trabalharão em profissões que ainda não existem

"O que vou ser quando crescer?" Dúvida infernal que quase todos tivemos – exceto aqueles sortudos que já sabiam desde sempre que queriam ser médicos ou engenheiros. Só que nos dias de hoje piorou: será que quando eu crescer ainda vão existir médicos e engenheiros? Afinal, as projeções do relatório “O Futuro da Profissões”, apresentado no Fórum Global Econômico, dizem que 65% das crianças começando a escola hoje trabalharão em profissões que ainda não existem!

Como prepará-las para esse desconhecido? Que medo! Ou que oportunidade? Oportunidade de revermos o sistema educacional, em pensar o que é realmente importante ser ensinado na escola - e como. O como já vem sendo trabalhado há alguns anos por várias entidades, a mais famosa (mas não necessariamente a melhor) a Kahn Academy. Mas e o “o quê”? O que essa geração da chamada Quarta Revolução Industrial (a mistura da internet com as coisas – robôs, automação e Cia!) precisa aprender durante sua formação? 

O relatório tem trocentas tabelas, figures e gráficos descrevendo fatores demográficos, socioeconômicos e tecnológicos que promovem mudanças, desde a ascensão da classe media em mercados emergentes, mudanças nos ambientes de trabalho, aumento das aspirações e do poder econômico das mulheres (Yes!!), até internet e nuvens, crowdsourcing, inteligência artificial e genética/biotecnologia.

À medida que lia o relatório apresentado no Fórum, não parava de pensar nas minhas filhas e em sua escola – o que eu gostaria que elas estivessem aprendendo ali para serem felizes “quando crescerem”? Como será esse mundo delas grandes?

Sim, empregos, indústria, produtividade, saúde, tudo isso é importante. Mas, ultimamente, o que mais me preocupa sobre esse futuro é saber: em que planeta elas viverão? Na lama de Mariana, no lixão da Baía de Guanabara, na poluição de Pequim? Ou essa escola (e a sociedade toda, não vamos jogar essa responsabilidade só na escola) terá ensinado a elas o valor do meio ambiente?

E como as pessoas se relacionarão nesse futuro? Como judeus e palestinos, como ditadores africanos ou árabes vivendo nababescamente às custas de seu povo miserável, como as elites virando a cara para o povão? Ou em sua formação, minhas filhotas terão incorporado tolerância, respeito às diferenças, amor ao próximo, consciência social e o que mais for necessário para construírem um mundo mais harmônico?

Enfim, para quem estiver interessado, o tal relatório descreve os talentos necessários para se empregar no futuro – e como você leitor(a) vai viver uns 10-20 anos a mais do que seus avós e terá que trabalhar por muito mais tempo, quem sabe valha a pena pensar no que sua atual profissão vai se transformar no futuro, ou “O que vou ser quando envelhecer?”. Mas sigo batendo nesta tecla: esse futuro e suas novas profissões só existirão se até lá tivermos enfrentado o gigante desafio da sustentabilidade, ecológica e social.

Vai lá: relatório “O Futuro da Profissões”

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