Amanda Palmer e a Arte de Pedir

por Ana Luisa Abdalla
Tpm #153

A cantora lança livro ’A arte de pedir’ e, através de sua história, chama o público para uma reflexão sobre aceitar ajuda

Há 15 anos Amanda Palmer se juntou ao músico Brian Viglione para formar a banda The Dresden Dolls. Durante algum tempo intercalou os shows com os trabalhos de estátua viva, stripper e dominatrix. Até que ela passou a se dedicar apenas à música - livre da indústria fonográfica, claro. Em 2012, com 12 anos de estrada e no posto de rainha da cena alternativa, Amanda recorreu ao Kickstarter, um site de financiamento coletivo, para lançar seu novo álbum. Em um mês arrecadou cerca US$ 1.2 milhão. Foi o projeto musical que mais angariou fundos na história do site.

Junto com a fama e o dinheiro vieram os críticos e os invejosos. Muitos queriam entender por que as pessoas estavam dando dinheiro a ela. E a resposta vem em seu livro A arte de pedir, lançado em março no Brasil. Nele, Amanda revela algo que percebeu quando ainda era a estátua de uma noiva de 2,5 metros em uma avenida de Boston: que há uma força enorme no instante de troca entre estranhos. A artista sempre dividiu seus medos e desejos com os fãs. Compartilhou sua história e recebeu de volta uma horda fiel de seguidores.

No livro, Amanda conta toda essa trajetória enquanto revela detalhes de sua vida, incluindo o casamento com o escritor Neil Gaiman, as bandas dais quais fez parte e sua palestra no TED – que tem mais de 6,5 milhões de visualizações.

Confira nossa entrevista com a artista:

Como é possível estabelecer essa poderosa conexão com fãs pelo mundo inteiro? Faz parte da beleza de como a internet funciona, especialmente o twitter e o facebook. Você tem todas essas pequenas, mas significativas mensagens, que criam um enorme relacionamento coletivo. E faz parte da beleza de fazer tour. Quase sempre passo um tempo depois do show com os fãs, cantando, abraçando e ouvindo suas histórias.

O livro inicia um outro patamar de proximidade com seus fãs? Esse livro é um curso intensivo em “ficar intimo com Amanda”, mas, com certeza, não é a primeira vez que eu revelo meus pensamentos mais íntimos, eu tenho feito isso desde a primeira vez que peguei em uma caneta. Mas tem um novo nível de compartilhamento sobre meu casamento que eu normalmente não coloco no blog, ou nas canções. Há um pouco mais de tempo extra pra refletir sobre algumas sensações, como a de passar por um ciclo inteiro de controvérsia. Normalmente eu não escrevo sobre isso no blog de forma extensa, principalmente porque eu não quero abrir pra novas discussões. O mais legal sobre o livro é que não existe sessão de comentários. 

Suas diversas profissões te transformaram em quem você é hoje? Completamente. Muitos dos meus empregos envolveram uma necessidade de exposição e, ao mesmo tempo, de me proteger: ser stripper, uma estátua viva, uma dominatrix. Você tem que se virar pra descobrir como se relacionar com outras pessoas em alguns ambientes sem se abalar. Aprender tudo isso me deu autoconfiança, e um espírito de independência feroz. Eu não espero que o mundo tome conta de mim. 

Como não ter medo de pedir ajuda influenciou em sua carreira? Fez da minha carreira um relacionamento e não uma relação de uma só via. Eu vejo minha atuação na indústria musical como uma conversa com as pessoas, com meus fãs, e não uma reunião com alguns caras a portas fechadas.

E você considera que tem, de fato, um talento especial para pedir? Não mais do que acho que tenho um talento especial de me sentir confortável na minha própria pele. Foi algo que se desenvolveu. Eu era uma adolescente muito introvertida e isolada, me abria no teatro, mas não era popular, cheia de sorrisos e amigos. Então foi algo que foi crescendo e desenvolvendo quando eu tinha uns 20 anos e acho que ser artista de rua foi o que deu abertura pra isso.

Você e o Neil estão juntos há muitos anos. Quando ele te pediu em casamento, você perguntou se teria que agir como uma esposa. O que seria agir como esposa? Eu estou grávida e nós AINDA não temos um lugar pra morar e nós nunca tivemos uma casa juntos. Nunca dividimos tarefas domésticas ou discutimos sobre quem lavaria a louça. Eu tenho a sensação de que tudo isso está prestes a mudar, mas basicamente: o primeiro casamento de Neil foi bastante convencional. Quando eu disse isso, queria deixar claro pra ele que eu não tinha nenhum interesse nesse estilo de vida, e que eu provavelmente nunca mudaria. Até agora tem funcionado muito bem. Vai ser interessante ver se uma criança vai destruir nosso frágil ecossistema.

Pro futuro, vai continuar com a carreira musical? Se eu parasse de fazer música, enlouqueceria.

E você vai ser mãe em breve. Como a maternidade entra nos seus planos? Sempre tive sentimentos conflitantes em relação a crianças. Conseguia me imaginar perfeitamente vivendo e trabalhando com, ou sem filhos. E conforme essa janela começou a se fechar, afinal tenho 38 anos, eu percebi que tinha só uma chance de ter essa experiência. Ainda estou me perguntando se fiz a escolha certa.

Qual a reação que você espera do público com seu livro? Ressonância, principalmente. Eu fico muito feliz quando alguém me diz que meu livro a fez sentir menos sozinho, que eu consegui explicar algo que existia dentro dele mesmo. Isso me dá uma enorme felicidade, porque foi isso que meus livros favoritos causaram em mim.

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