’Apenas o fato de ser mulher já me colocou em uma posição onde meu corpo não deveria ser o meu e, sim, um outro que seria objeto de exame de olhos alheios’
Minha luta é pela autonomia sobre nosso próprio corpo. Apenas o fato de ser mulher já me colocou em uma posição onde meu corpo não deveria ser o meu e, sim, um outro que seria objeto de exame de olhos alheios e veículo lucrativo para a indústria estética.
Aprendi isso desde cedo com meus brinquedos e desenhos animados. Depois com as novelas e filmes. Adolescente, aprendi na base do sofrimento e - por que não dizer - bullying. Foi assim comigo e com 90% das mulheres que passaram e passam pela minha vida, cada uma com um tipo de corpo e personalidade únicos.
Não é fácil notar que o diferente é especial, quando tudo que se quer é ser igual, não é mesmo? Foi em 2009, quando me dei conta disso, que resolvi montar o blog Entre Topetes e Vinis. Eu queria falar de moda com personalidade para mulheres que não se encaixam no padrão alta-magra-loira-olhos-claros. Na época era apenas uma maneira inocente de compartilhar minhas dicas diárias para adaptar uma peça aqui, fazer um achado ali, mas com o tempo fui percebendo que muitas mulheres compartilhavam os mesmos dramas que eu em relação às cobranças com o corpo e a falta de assistência do mercado como um todo.
Então, descobri de fato a minha luta: uma moda democrática e a busca pela nossa própria aceitação. Não é nem de longe uma batalha conformista, ao contrário, é otimista. Com looks diários, matérias diferentes, listas bem humoradas entre outros conteúdos que alimentam o blog, tento mostrar para as leitoras que elas são lindas independente do corpo que têm. A beleza é relativa e todas são perfeitas como são. Padrões são sempre muito difíceis de atingir.
Criei até uma campanha, #agordaeamagra. Nela, coloco duas pessoas, uma gorda e uma mais magra, vestindo as mesmas roupas. Isso, para mostrar que todas as pessoas podem usar o que bem entenderem e quiserem. Eu sempre acreditei que moda é nossa forma mais direta de expressão e é sempre a primeira impressão que as pessoas têm de nós. Porém, é a roupa que tem que servir na gente e não a gente quem tem que servir na roupa.
Minha luta é para tirar aquelas baboseiras que aprendemos a vida inteira sobre o corpo e colocar na cabeça das mulheres que tudo que diz respeito ao corpo delas é uma decisão delas mesmas e só.
*Juliana Romano é criadora do blog Entre Topetes e Vinis, que fala de moda pra todo tipo de mulher.
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