Mascate de histórias

por Natacha Cortêz

Pedrinho Fonseca reúne fotos de desconhecidos e entrega de volta textos construídos para elas

Para Pedrinho Fonseca, 37, a frase “uma imagem vale mais que mil palavras” é levada ao pé da letra, ou quem sabe ele extrapole o limite das mil. Mais que mil palavras, pra ele uma imagem vale troca, vale peito aberto e vale uma história, ou várias delas. Versões construídas por um narrador observador curioso, faminto pela poesia embriagante das banalidades da vida, por momentos que a constroem. E melhor ainda se eles estiverem guardados em fotografia.

Daí que o publicitário recifense, com vinte anos dedicados à propaganda, deixou o ambiente das grandes agências pra exercer o que lhe tira o ar. Foi escrever. Então a soma é simples e conhecida: fotografia e histórias. Mas a ela, juntou o “escambo” e a ordem de “preço nenhum”. Na Loja de Histórias, o projeto que abraça suas novas vontades, ele pede por fotos preciosas, “imagens do coração”, e nenhuma legenda, nenhuma explicação. Para seus remetentes, entrega de volta textos, especialmente escritos para elas. “E de repente, me sinto em um negócio no qual sei que sempre vou ter lucro. Porque as pessoas estão me dando imagens que têm um valor muito maior pra elas do que eu posso devolver”. E para ele, o exercício imagético é fácil, quase instintivo. É ouvinte atento, enfeitiçado por gente, capaz de desenrolar horas de conversa porque o que lhe interessa mesmo é “assunto”.

A Loja de Histórias, hospedada em um site e com extensão em fanpage, tem pouco mais de duas semanas. De lá pra cá, seu proprietário já escreveu cerca de 30 histórias e recebeu mais de 300 fotos. E diz que todas, e quantas vierem, receberão seus textos. Apesar de ter um critério pra qual delas é escolhida primeiro, a ideia inicial é que nenhuma foto escape de seu “exercício literário”. Mesmo assim, conta de que tem suas preferidas e que cada uma delas causa um sentimento diferente nele, mas que pra todas sente a obrigação de retribuir a confiança que recebe de quem as manda. “Essa história das pessoas abrirem seu baú de fotografias, elegerem imagens e me enviarem é algo muito rico pra mim, muito significativo. Sinto que também tem um valor emocional grande pra elas. Quando recebo os e-mails é como se dissessem 'Olha, é minha foto, é importante pra mim. Vê lá o que vai fazer com ela.”

O projeto do publicitário é generoso. Pedrinho se compromete a entregar aos seus “clientes” uma espécie de posteridade pra algo que já tem esse conceito. É como se ao publicar os textos, ele estivesse dando notoriedade às histórias alheias, revelando de alguma forma, mesmo que ficcional, um pouco do que guarda aquela foto. “Para a pessoa, aquela imagem já contou algo. A impressão que tenho é que quando me enviam a foto, elas têm a curiosidade de saber se essa imagem vai atingir as outras pessoas da mesma maneira que as atingiu. Aquilo que antes era importante só pra elas, é resignificado com outros valores. A grandeza que essa troca tem, não tem preço.”

E qualquer um pode negociar em sua loja. O movimento por lá só cresce e a intenção é não fechar as portas tão cedo. "Enquanto eu der conta, vou escrevendo. E por enquanto não está nem perto de eu pensar em parar."

Vai lá: www.lojadehistorias.com

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