Patricia Koslinski fala de maternidade

por Redação

”Minha dor hoje é o eterno dilema de uma conta de tempo e dedicação que nunca fecha”

Desde da volta de sua licença maternidade, Patricia Koslinski, deixou o cargo de apresentadora na TV para assumir um lado mais estratégico e de gestão dentro do GNT, canal no qual trabalha desde 1996, quando começou como estagiária. De lá pra cá, foi editora, repórter, apresentadora e hoje se divide entre  coordenação e direção dos programas de moda e beleza. Sob sua gestão estão Superbonita, GNT Fashion, Vamos Combinar Seu Estilo, Desafio da Beleza, além da série que estreia em agosto sobre o universo da cirurgia plástica chamada Beleza S/A

"Hoje muitas mulheres vivem uma grande contradição em suas vidas: temos a liberdade para escolher a 'hora certa', do ponto de vista pessoal e social, para ter um filho, mas, quando essa hora chega, a resposta do corpo nem sempre é no ritmo do nosso desejo, da nossa decisão"

Integrante do time de convidadas da Casa Tpm 2013, conversamos com ela sobre o papel da mulher hoje e suas expectativas para o evento.   

Pra você, quais são as dores e delícias de ser mulher hoje?
Eu me considero privilegiada por viver nos dias de hoje. Vivo plenamente minha liberdade de escolha, exerço meus direitos e deveres como cidadã, participo da vida política e econômica do país, sou "dona do meu nariz". Não preciso impor respeito. Já nasci numa realidade onde minha voz feminina é ouvida pelo meu parceiro, pelos meus companheiros de trabalho, pelo porteiro do meu prédio, pelo governante do meu país. Essas conquistas que vivo plenamente hoje como se fossem naturais, como se sempre tivessem existido, são para mim as delícias de ser mulher hoje. Poder escolher a hora certa - seja lá o que isso quer dizer - para casar, ter filho, mudar de trabalho, estudar, separar, casar de novo, ficar sozinha... Ser quem quero ser é a maior delícia e o maior dos luxos. Mas ainda há muitas dores. Há mulheres que não vivem essa liberdade plena. Há ainda muita violência, opressão, cobrança. Não é a minha realidade, mas é a de muitas outras mulheres mundo afora. Para mim, há dores, sim, mas que são consequência de uma autocobrança, de um conflito íntimo intenso entre o ser social que sou, que conquistei, que exerço, e o ser privado, maternal, familiar que desejo construir e alimentar. Minha "dor" hoje, portanto, é essa: o eterno dilema de uma conta de tempo e dedicação que nunca fecha. Meu dia deveria ter mais de 24 horas para eu ser essa mulher independente sem deixar de ser essa mãe presente. 

Conquistamos muitas coisas profissionalmente, nos relacionamentos, no poder de decisão e de expressão, mas você se sente livre mesmo? 
As conquistas são muitas, mas a liberdade é relativa. Posso ir aonde quiser, posso escolher a profissão que mais me realize, mas será que posso optar, sem causar estranheza, por ser dona de casa e cuidar dos filhos? Posso optar livremente por não ter filhos? Socialmente ainda temos papéis que nos amarram, nos prendem. Ainda temos que dar muitas explicações. Isso, para mim, não é ser livre de verdade.

Qual é sua expectativa em relação à Casa Tpm?
Eu estou muito animada. Acho que vai ser uma excelente oportunidade para dividir minha história pessoal e minhas reflexões com relação à maternidade. Passei por um longo período de tentativas para engravidar e essa experiência me mostrou que hoje muitas mulheres vivem uma grande contradição em suas vidas: temos a liberdade para escolher a "hora certa", do ponto de vista pessoal e social, para ter um filho, mas, quando essa hora chega, a resposta do corpo nem sempre é no ritmo do nosso desejo, da nossa decisão. A medicina já fez muitos avanços para auxiliar as mulheres nesse momento, mas ainda há a falsa percepção de que basta se submeter a um tratamento que nosso filho estará lá. A realidade acaba mostrando de maneira dura e dolorosa que o tratamento nem sempre é tão simples, rápido e eficaz quanto o senso comum nos faz crer. É aí que percebemos que a liberdade não nos dá controle sobre tudo. A vida continua sendo imprevisível; a natureza, mesmo com todo avanço médico, ainda atua. Viver isso gera uma angústia danada em todas nós, mulheres modernas, independentes, mas antes de tudo mulheres como todas as outras, de todas as épocas. Quero muito falar e ouvir sobre isso.

Vai lá: Casa Tpm 2013
Quando? 17 e 18 de agosto
Onde? Nacional Club - R. Angatuba, 703 - Pacaembu, São Paulo/SP

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