Violência e Desigualdade Social

por Luiz Alberto Mendes

Os economistas, políticos, empresários, jornalistas, donos da mídia e demais componentes da cúpula que manipula os cordéis vivem a reclamar do fraco crescimento do país. Provavelmente deixaram de aumentar seus ganhos e isso deve ter abalados seus planos de enriquecimento constante. Mas, em contrapartida, hoje já é impossível negar que na ultima década houve a maior redistribuição de rendas já ocorrida no país. Os planos e a grana do governo chegaram até o sertanejo sem passar pelas mãos dos prefeitos. Onde havia miséria, sede e fome, chegou parte do apoio necessário. É óbvio que a necessidade é muito maior. Juntos formamos um país e somos responsáveis por todos nossos compatriotas. Socorrer aqueles em piores situações é até uma questão de patriotismo. Para mim, não fazer nada, podendo fazer, é anti-patriótico. Nos falta essa noção de patriotismo: o Brasil não é só o espaço compreendido entre suas fronteiras; o Brasil também são todos brasileiros.

O nível da desigualdade social entre possuidores e despossuídos no país, apesar dos programas sociais do governo, ainda é exagerado, chegando às raias do absurdo, se comparado às nações européias. Por lá, um salário considerado bom para um profissional especializado de alto nível é, em média, 5.000 euros mensais. Um ajudante doméstico custa cerca de 1.500 euros por mês, o mesmo que um lixeiro. A relação do salário do empregado para o chefe é de 1/3. No Brasil, um bom salário seria em torno de 20.000 reais. A empregada doméstica ganha em torno de um salário mínimo; a relação é mais de 1/25. Um lixeiro talvez ganhe um pouco mais, apenas. Dos relatos que se ouve ou se lê, o europeu quase não tem empregados em casa. Além de tudo, custa caro. No máximo estão para limpar, arrumar e sair fora para viver suas vidas; não fica à disposição do patrão 8 horas por dia. O europeu aprendeu a limpar seu banheiro, fazer faxina em sua casa, lavar sua roupa, andar de transporte coletivo, ficar nas filas, esperar sua vez e tem educação para compreender que o mundo foi feito para todos. São educados em casa e na escola para a convivência com todos e a não tirar vantagens sobre o outro. Aqui fazemos o processo inverso: na medida que vai melhorando o salário, a primeira providência é contratar uma ou mais empregadas domésticas. Dá status social e é tão barato... 

As cidades européias são muitas vezes menos violentas que as nossas. Aqui são mortos mais jovens, pretos e pobres nas periferias das grandes cidades que nos países em guerra. Hoje ficou absolutamente claro que a violência tem sua razão direta na desigualdade social e na falta de educação. Nesses países também têm crimes, assaltos, furtos, estupros, mas muitas vezes menos que aqui. Por lá a desigualdade social é muito menos perceptível. Eles dizem que acabam se encontrando no meio. Aqueles que detêm o capital descem um tanto e o operário sobe outro tanto; no meio há o encontro entre seres humanos iguais. Dizem que as pessoas não se discriminam por valores econômicos. É obvio para quem conhece seres humanos (os daqui não são tão diferentes dos de lá), que não é bem assim como um céu azul e uma água da fonte. Mas dá para acreditar que seja mais ou menos assim, com seus altos e baixos. E que esse é um dos fatores de até desenvolvimento e crescimento daqueles países.

Aqui, pelo contrário, além da violência absurda que gera, a desigualdade social é um dos principais freios ao desenvolvimento e crescimento do país. Não temos mão de obra qualificada suficiente para tocar o desenvolvimento do país. Tecnologia de ponta só nos chega quando já é obsoleta nas nações que as produzem. Nosso povo não tem cultura e sua educação é deficiente. Algumas pessoas têm tanto e a maioria tão menos, que se julgam superiores, 'classe alta', portanto, com direitos inquestionáveis a tudo. Porque não limpam seus banheiros (e devem usar perfumes caros), abstraem o uso que fazem dele e esquecem o que aquele lugar nos mostra: que somos todos iguais.

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Luiz Mendes

26/08/2014.  

 

 

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