Rafael Losso à margem

por Carol Ito

”Tomei banho de sal grosso pra me acalmar”, conta o ator, que interpreta um lutador clandestino, em Rio Heroes, e um skinhead, em Rotas do Ódio

Aos 36 anos, Rafael Losso tenta viver sem preconceitos. "Sou um cara que usa saia", conta. Durante os últimos meses, porém, mergulhou em universos cheios de violência e intolerância. Estreou em março a série Rotas do Ódio (Universal Channel), em que vive o skinhead Capitão. 

A preparação para viver o personagem incluiu a leitura de denúncias feitas ao Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância), além de textos e filmes sobre o assunto. “Em algumas cenas tinha que xingar pessoas de minorias, isso mexia muito comigo, era violento demais pra mim. Tomei banho de sal grosso em alguns momentos para me acalmar”, lembra. Apesar do desconforto, ele acredita na importância de abordar o assunto: “É um projeto importante nesse momento que estamos vivendo. Falar de intolerância é necessário”.

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Outro projeto que mexeu com Rafael foi a série Rio Heroes (Fox), no ar desde o fim de fevereiro. Para sacar as referências de Eric, um lutador e antagonista da história, ele estudou o campeonato clandestino Rio Heroes, que era realizado em Osasco, até ser denunciado há uma década. As lutas eram transmitidas on-line para que as apostas fossem feitas nos Estados Unidos, país que tem leis mais flexíveis que as brasileiras.

“A luta tem só um round e acaba quando alguém apagar ou desistir. Além disso, os lutadores não usam luvas”, explica Losso. O professor de jiu-jítsu, Jorge Pereira, criador do campeonato, inspirou a série. “Eu juro que tinha medo dele, mas vi que é um cara muito doce. É uma ambiguidade muito doida, porque ele viveu na porradaria”, conta.

Para ele, o papel da dramaturgia é problematizar, estimular a reflexão e motivar pessoas a buscarem informação de qualidade. “Vem um ano muito complexo pra gente, temos Copa do Mundo e eleições. A Copa vem pra confundir e, se não estivermos preparados, vai ser a pior eleição de todas”, observa. 

Mais leve

No momento, Losso está no elenco da novela da Globo, O outro lado do paraíso, como o garimpeiro Zé Victor, que tende para o lado cômico. Em paralelo às gravações, atuou no filme Virando a Mesa, ainda sem data de estreia, sobre uma boate clandestina comandada pelo personagem de Stepan Necessian. No longa, Losso interpreta um trambiqueiro “todo atrapalhado”, um respiro da vibe pesada das séries.

Fora das filmagens, conta que não lida muito bem com as câmeras – e selfies – e não é dos que expõem a vida pessoal nas redes sociais, apesar de usar os perfis para divulgar seu trabalho. “Sou péssimo pra tirar foto e ficar pagando de bonito”, explica. Apesar da timidez, ele relembra a experiência de ser fotografado nu para a revista Tpm, em 2015: “Foi muito legal, um vendaval na minha vida. As pessoas ainda perguntam como foi sair pelado, como é minha relação com o corpo. Respondo numa boa, porque as únicas coisas que tenho são meu corpo e minha alma”, brinca. 

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