CRIATIVIDADE
Sonhei ser escritor. Sujeito cuja infelicidade e sofrimento guardassem em si, doçura e esperança. Pensei escrever seria aliviar, desabafar, desatar nós, absorver o incompreensível e o inaceitável. A palavra sempre me acolheu sem julgamentos.
Estou anacrônico. Tudo esta cada vez mais na base do ‘fique rico ou morra tentando’. E eu cada vez mais poesia e encanto. As idéias me voam como passarinhos enquanto respiro. À tarde, quando os raios de sol se inclinam e o verde das folhinhas recebe dourado nas pontas, escrevo porque nada é tão grande. E assim descubro que nada responde melhor ao propósito de existir do que conseguir satisfação em estar existindo.
Nas escritas rupestres o homem já manifestava seu prazer em viver. Desenhava os animais que devorava e figuras humanas em atividades sexuais. A linguagem foi criada para revelar alegrias, prazeres e agruras do homem em sua luta existencial.
Camus achava que o sofrimento ou a miséria mais extrema, guardam em si uma espécie de felicidade. Acho que não existe nenhuma parte de meu corpo que não foi espancada. Necessitei sofrer muito para aprender. E não senti nenhuma felicidade nisso.
Só encontrei meu lugar no mundo quando consegui criar pontes entre eu e os outros através da escrita. Hoje vivo uma busca insana de preencher cada momento de minha vida de significados.
Claro, tudo seria assim ótimo, não fosse eu humano, como uma represa, sentindo-me vazar aos pouquinhos, escravo da ansiedade e da voracidade de viver.
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Luiz Mendes
15/12/2011.