Uma resenha do show de São Paulo ou ’’Porque o FNM foi a última banda de rock da minha vida’’
Já tem um monte de resenhas sobre os dois shows do Faith no More em terras brasileiras pipocando por aí. Algumas bem injustas, diga-se. Mas convenhamos, toda resenha é sempre sobre as impressões de alguém, nenhuma é um axioma.
Então, neste texto serei breve sobre a apresentação em São Paulo (24 de setembro, no Espaço das Américas): Ao contrário do RIR, o som da casa estava ótimo e o público sabia o que estava fazendo lá. Aliás, o show carioca foi tão ruim que o de SP ficou parecendo ainda melhor.
A turnê de Sol Invictus está no fim e os caras estavam visivelmente cansados (ou talvez guardando um pouco de energia pro show do dia seguinte). Mike Patton não estava 100% ali, o que também não chegou a comprometer o espetáculo. Claro, fã de FNM é mal acostumado, o cara tem que fazer todos os malabarismos vocais plantando bananeira.
Teve coro em Midlife Crises, Evidence em português, gritos de “porra, caralho!” (o chavão do Patton) entrecortando cada hit. Aliás, se eu fosse fazer uma única crítica, seria o excesso de hits no setlist. Particularmente, gostaria de ver mais lados B. Eu dispensaria alguns, como Epic, os covers de Easy (dos Commodores) e I Started a Joke (do Bee Gees).
E mantendo a tradição de colocar uma música incidental nada a ver com o gosto de seu público, (desta vez foi o mega-hit atual pop All About the Bass, de Meghan Trainor). Algo que a molecada de mais radical do rock não costuma entender.
Aliás, é aqui que eu mudo de assunto pra justificar a afirmação do título.
Aos 14, 15 anos, eu era roqueiro. Daqueles que achavam que o rock era uma verdadeira instituição a ser salva. Até o dia que o primeiro do Mr. Bungle caiu na minha mão. Ouvi aquilo e chapei. Aquilo não era rock, era experimentalismo radical, misturando gêneros completamente distintos entre si. Graças ao Mike que eu descobri que rock era só mais uma das infinitas possibilidades musicais que existem nesse mundão e, talvez, uma das mais pobres.
Fui atrás do ska, do samba, highlife, afrobeat, klezmer, space-age sounds, juju, soca, dancehall, ghettotech, valsa, choro, avant-garde, funk, grind-core, todo o jazz desde o dixieland, o rap, a cumbia, a polka enfim…. a lista é enorme. Foi todo um universo em desencanto que se abriu aos meus ouvidos.
Era muita coisa, e o rock é uma novela que já não dava mais eu acompanhar. Exceto o FNM. Valeu, Mike!