Caminhos
Raul cantava assim: “Não sei para onde estou indo, mas sei que estou no meu caminho...” Talvez os caminhos de cada um sejam únicos, traçados inéditos. Tenho vivido tanto dessa luta sem tréguas que chamamos de vida que parece que estou sempre por um fio. Talvez o fio de Ariadne que há de me levar ao caminho que é meu. Muitas vezes me sinto como um trem desgovernado seguindo direto para o desastre.
Há muito descobri que não há outro caminho para mim que não esse que tenho formatado. Sai da prisão querendo me misturar, ser mais um apenas, sem destaques especiais. Viver o que me restava de vida de modo tranqüilo, sem chamar muito a atenção. Meu coração e meus nervos desfibrados pareciam não aguentar mais.
Mas meus olhos me levavam janela afora. Havia algo ainda. Não me sentia vivo quanto precisava, nem amado o suficiente e muito menos respeitado o tanto que necessitava. E minha vida se engravidava, qual a um imã que atrai, de obrigatoriedades. Ver e saber implica em responsabilidades. Na verdade nada me completava e eu me sentia mais humano que qualquer coisa. Viver, de modo algum, podia ser aquele hábito diário, aquelas mesquinharias todas e essa pobreza de motivos existenciais.
O sonho de viver em paz havia perdido seu fascínio. Claro, havia alguma paz, mas não aquela sonhada por entre as grades da prisão. Nada era gratuito. Tudo cobrava autocontrole, equilíbrio, lucidez e clareza de objetivos. E eu, pobre de mim, tais virtudes nem sempre me foram possíveis. Sempre fui meio insano e me equilibrei precariamente tentando lucidez. A existência exige em demasia de quem pretende seguir seu caminho.
Tudo é súbito, grave, profundo e letal como a perfuração de um punhal. Ainda haverá noites insones e dias febris porque viver, percebo, é protagonizar acontecimentos. Mas tudo isso, entendo agora, faz parte de continuar vivendo, de seguir o meu caminho.
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Luiz Mendes
01/03/2010.