por Camila Eiroa

Dois jovens criaram a Guará Mobília, marca de móveis em madeira maciça que pretende ir contra o consumo superacelerado e valorizar a matéria-prima brasileira

O aparelho de jantar da casa dos seus avós. Você se lembra deles? E os armários, que passaram pela família e duraram um bom tempo? O que tinha de diferente nessa mobília em relação aos móveis que duram pouquíssimo hoje? Todas essas perguntas vieram à cabeça do arquiteto Matheus Martini quando precisou comprar uma mesa para sua casa. Depois de procurar em todos os catálogos de marcas disponíveis na internet e se deparar com produtos caros, com design que deixavam a desejar, e outros baratos sem qualidade, gostou de um modelo aparentemente simples e se questionou: “por que eu mesmo não posso fazer?” A Guará Mobília, marca de móveis em madeira maciça, nasceu há 5 meses dessa vontade de explorar a criação dentro da arquitetura de um modo menos capitalista.

Assim que foi demitido, Matheus procurou outras formas de trabalhar e produzir com as próprias mãos. O primeiro móvel encomendado, um porta bicicleta, foi para a amiga Bárbara Vioto, que assim que recebeu a peça propôs fazer parte do negócio. A publicitária queria aprender a fazer móveis e usar seu conhecimento com Marketing Digital para lançar a marca. “Quando eu era pequena, falava que no futuro faria cadeiras, móveis. O Matheus resgatou isso em mim, por isso sugeri que a gente se juntasse. Ele entende de projeto, e eu, de comunicação. Desde então, abrimos a oficina e fazemos tudo, colocamos a mão na massa mesmo”, conta Bárbara, que mostra orgulhosa a mão calejada de trabalhar com madeira.

Bárbara e Matheus instalaram a oficina na zona sul de São Paulo e criaram cinco produtos principais: o porta-bike, uma arara, um rack, uma estante e uma mesa lateral. Atualmente estão trabalhando na criação da primeira coleção da Guará, que vai ter como inspiração o povo indígena Tupi Guarani. “A proposta é ser algo genuinamente brasileiro, com durabilidade. Além de trazer o que os nossos pais e avós tinham: móveis de madeira que duram. Algo que não vai se desfazer com o tempo, sabe?”, conta Bárbara. “No Brasil, temos muita matéria-prima para isso. Na Guará, tentamos utilizar madeiras que não são totalmente exploradas, já que algumas espécies são usadas em grande escala”, explica.

Pelo tempo de crescimento das madeiras, muitas espécies exóticas estão sendo plantadas no Brasil para aumentar a produção. Julgadas como sustentáveis pelo rápido replantio, na prática as coisas não são tão positivas assim. Matheus explica: “A longo prazo, essas madeiras se tornam desertos verdes, entende? É o caso da Pinus. Por mais que elas cresçam muito rápido, elas não são naturais para o nosso solo, o que afasta as espécies animais. Sem contar que, para estarem ali, a mata nativa foi toda removida.”

A preocupação com a procedência da matéria-prima e boa utilização de todo o material começa na madeireira e termina no não descarte das sobras. Com os pedaços de madeira que sobram, a fotógrafa Bianca Lucchesi confecciona jóias para a marca Ursula. São colares e anéis feitos puramente de madeira. “Não produzir lixo e ir contra o consumo superacelerado. Esse é o diferencial da Guará Mobília. Queremos que as pessoas possam contar histórias com os nossos móveis, que eles sigam fortes por bastante tempo e sejam peças para a vida toda”, resume Matheus.

Vai lá: www.guaramobilia.com.br

Créditos

Imagem principal: Biancha Lucchesi

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