Gregório Duvivier contra as fake news

por Nathalia Zaccaro

O carioca estreia nova temporada de Greg News e diz: ”Nem tenho a esperança de atingir os bolsominions”

A partir de hoje (23/3), Gregório Duvivier volta a despejar seu humor ácido na nova temporada de Greg News, na HBO. Eleição, Copa do Mundo, intervenção militar e todo o caos político e social do Brasil de 2018 serão insumos para as pautas dos 20 novos episódios do programa. "Mais do que falar sobre o que todo mundo está falando, a gente quer falar sobre o que ninguém está falando, mas deveria", explica Gregório.

O tom divertido dos textos do apresentador faz com que o Greg News tenha vida para além da TV fechada. O episódios da temporada de estreia em que Duvivier ironiza João Doria, Crivella e Edir Macedo tem mais de meio milhão de visualizações no YouTube. "É um programa de humor, mas a gente acredita nos fatos. Tudo que falamos é fruto de pesquisa, de apuração. É humor com responsabilidade e isso é um diferencial", diz.

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Antes da estreia, Gregório trocou uma ideia com a Trip sobre bolsominions, eleições, plateia, privilégios e paternidade:

A segunda temporada do programa traz alguma mudança de formato? A gente entendeu que a plateia é mais importante do que imaginávamos. Na primeira temporada tínhamos espaço para 50 pessoas, agora serão 120. Isso muda tudo. Tem mais calor e acusticamente funciona melhor também. Muita gente achou que as risadas na primeira temporada eram de mentira! Juro que não eram. Mas esse ano vai funcionar melhor.

A gente está em um período histórico tão intenso, acontece tanta coisa em uma semana. Como manter o programa quente e relevante? Não tem sentido querer competir com a rapidez da internet. O barato é não precisar correr atrás disso. Mais do que falar sobre o que todo mundo está falando, a gente quer falar sobre o que ninguém está falando, mas deveria. Pensar qual é a grande pergunta que está por trás dos assuntos. Não vamos falar sobre os últimos avanços da Polícia Federal no caso Marielle, por exemplo. Isso faz com que o programa tenha uma longevidade maior.

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Muito do conteúdo que circula na internet é fake news. Vocês pensam em combater isso de alguma maneira? A gente se afasta dessa coisa perigosa que tomou conta da internet. É um programa de humor, mas a gente acredita nos fatos. Tudo que falamos é fruto de pesquisa, de apuração. É humor com responsabilidade e isso é um diferencial.

Daqui a pouco as eleições vão dominar as discussões. Vocês já sabem como vão tratar o assunto? A gente não vai apoiar ninguém no programa, mas também não vamos cair na besteira de dizer que todo mundo é igual. Não vou ficar falando “não votem no Bolsonaro” ou “votem no fulano”. Vamos falar sobre temas como moradia, segurança, democracia e a relação entre esses assuntos. Tem também a parte histórica, que é muito interessante. Falar do passado, do que a gente passou reto e não discutiu. É uma coisa meio psicanalítica, de remexer no passado.

Você se posiciona bastante. Sofre com haters? Lido muito com isso na coluna da Folha. No programa tem muito menos, não sei se é porque é mais leve, com humor. O Greg News consegue atravessar um pouco a polarização que o Brasil vive hoje, furar a bolha. Vejo gente que tem pensamentos opostos compartilhando os vídeos. Claro que não os bolsominions, nem tenho a esperança de atingi-los, acho que existe mesmo um abismo entre nós.

Recentemente muita gente questionou o fato de você ser um cara cheio de privilégios que quer falar sobre tudo. Você pensou sobre isso? Não tenho medo de falar nada. Ter privilégios é ter o dever de escancara-los, e é isso que tenho feito.Não tenho a ignorância de não reconhecer, eu tento escancarar. Não posso usar isso só para vender produtos e ir para casa. Me interessa tentar usar o fato de que eu tenho voz para pelo menos tentar democratizar esses privilégios.

Você acabou de ser pai! O que mudou? Tudo. Isso tem um peso enorme em tudo que eu faço hoje em dia. Esse programa tem muito de acreditar no país. Quero que minha filha cresça em um Brasil democrático, que saiba de si e que não seja tão partido ao meio quanto parece.

Créditos

Imagem principal: Rogério Resende/HBO

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