Fim de semana de surf

por Redação

Boletim das ondas traz todas as informações para você cair no mar e aproveitar o swell

Entramos na reta final do outono com o conta-giros no vermelho, e Netuno não quer aliviar a pressão! Dando sequência a este incrível período de forte atividade no Atlântico Sul, teremos mais uma grande ondulação de sul neste FDS (swell n.14), devidamente precedida por uma forte rodada de vento sudoeste (sábado) e também acompanhada de uma intensa, porém rápida frente fria. O ápice (potencial para 2,5m+ de sul) vem mais uma vez em um domingo frio e com sol. A qualidade está um pouco ameaçada, mas o dia é de transição nos ventos e pode guarda surpresas. Nós acreditamos que vale apostar e estaremos na água para conferir.

O caramelo desta ondulação que mescla características de inverno e outono vem na segunda-feira, quando os ventos certamente já terão virado. Será menor que a anterior, mas ainda assim justifica o alerta de High Surf (2m ou mais) e a combinação dos fatores pode gerar condições mais amigáveis em alguns preferenciais durante e/ou logo após o ápice. Perfeito mesmo seria se tudo ocorresse com 24h de antecedência, especialmente para quem não pode enforcar a segundona...

Teremos então uma rápida pausa para reaquecer as temperaturas e logo volta a esfriar e encostar o swell n.15 logo, indicando ser um pouco menor, mas possivelmente incluindo outro High Surf Advisory de 5ª para 6ª. Isso sem falar nos indícios de um novo sistema com potencial para gerar mais ondas no longo prazo, mostrando que a porta continuará aberta para mais ação.

É nesse clima de uma ondulação atrás da outra, esfria e esquenta e ventos acelerando e girando que está sendo montado o arraial de Netuno. Prepare o quentão, a fogueira e os braços. Afinal, junho é mês de festa e a melhor das quadrilhas é no outside! Chega de firulas, vamos aos detalhes!

1- Breve Restrospecto do swell n.13: o mais bombástico do ano

Depois de um sábado mais aproveitável que o esperado (os ventos não rasgaram como o esperado), no domingo a fusão de ciclones mostrou seu poder e o horizonte ficou deformado durante o ápice do swell. Unanimidade é sempre difícil, mas o consenso é que o swell das mães foi pra segundo legar no ranking dos maiores do ano, e não seria exagero colocar a última ondulação no hall das bombas de sul/sudeste década. Uma coisa é tamanho, outra é pegar as boas...

Onde o swell entrou de frente não teve jeito: máquina de ondas na casa dos 4m+, séries incessantes, corrente monstro, uma arrebentação sobrenatural e lajes espumando por todos os lados. Até de jet a coisa ficou preta, e o tow in rolou em muitos picos, incluindo alguns pouco comuns, além de vários preferenciais.

Conforme o esperado, muitos secrets e alternativos acordaram, alguns deles mostrando uma face raramente vista até mesmo para seus conhecedores mais assíduo. Lajes, ilhas, point breaks, ondas oceânicas – quase todas que necessitam de um sudeste grande - funcionaram, e como este foi gigante, há relatos de que algumas delas estiveram épicas. Muito bonito de se ver, mas bem complicado de surfar pra quem só tem dois braços pra remar. Muitos dos picos que quebraram ondas acima dos 3m até que tiveram boa formação, mas a colossal energia presente no mar, quase sempre sem um canal para ajudar, causou uma sensação que misturava êxtase, euforia, impotência e até um efeito laxante. As ondas estavam lá, mas o caminho até elas era olímpico e poderia render apenas um único drop, pois voltar ao pico seria outra missão impossível. Alguns poucos conseguiram, mas foram poucos mesmo e com grande mérito.

Encontrar, e principalmente surfar as boas não foi uma tarefa tão simples. Os relatos de quem encontrou um surf mais realista, e ainda assim adrenalizante, vieram de picos que receberam o swell de  meio lado (principalmente em picos de leste a leste/sudeste em função dos ventos, conforme havíamos alertado) ou ficaram bem protegidos por uma restrita janela de abertura. Pela segunda vez no já histórico mês de maio/11, tivemos uma ondulação com magnitude digna do Pacífico, mas infelizmente nossa realidade é bem diferente devido a batimetria (relevo do fundo do mar) de nosso litoral. Como quase não dispomos de reefs, não há como aproveitar swells deste porte em sua plenitude (ou até maximizá-lo) com perfeição e segurança juntos. Ao invés disso, para um surf produtivo na remada, temos que buscar picos onde essa energia é parcialmente bloqueada e/ou dissipada. Moral da história: Ondas nós temos, o que falta são os fundos. 

2- RESUMO LD 

LIQUID DREAMS

Condições predominantes para o litoral de São Paulo

  • Dia: Sábado 4 de junho
  • Tempo: Pode até ocorrer algumas aberturas logo cedo, mas o dia deve ficar nublado, frio e com ALTO risco de chuva. Temperaturas caindo e à noite gela
  • Ventos: Sudoeste moderado, devendo ganhar força ao longo do dia, quando deveremos ter rajadas mais intensas e há chances reais de ventania (dessa vez promete rasgar!)
  • Ondas: Sobem ao longo do dia e podem passar de1m/ 1,5mde Sul/ SW no fim de tarde
  • Direção: Sul para Sudoeste - 6 para 9s primário
  • Tendência: Mar reage de sul (especialmente à tarde), mas ainda desorganizado.

Destaques

Surf difícil. Dia de fortes transformações à medida que um grande sistema avança pela costa. Pela manhã as condições prometem ser fracas, com ondas muito pequenas e sem formação, sob ventos moderados do quadrante sudoeste. Existe uma pequena possibilidade de rápidos momentos de noroeste, mas pouco adiantará se não houver ondas de fato. Ao longo do dia o vento promete apertar e deve rasgar, com as ondas começando a subir à tarde e ganhando tamanho rapidamente. O cenário deve ser típico de inverno e são elevadíssimas de subir de forma storm e ressacada, inclusive com marés bem elevadas que podem engolir as praias e causar transtornos localizados (inclusive na enchente que ocorre na madrugada de sab para dom). O fim de tarde promete ondas já mais consistentes e ameaçando alinhar um pouco, mas a influência de SW acompanhada de ventos uivantes do mesmo quadrante possibilitariam pouquíssimas opções a serem checadas - onde terá onda o vento deve entrar de frente. Há potencial para passar de 1,5m nos preferenciais de sul, mas a formação são outros 500...

Tempo com cara de poucos amigos e condições difíceis no mar, bem mais propícias para ficar entocado do que para grandes buscas. Para quem estiver no apetite de recepcionar a frente fria, o fim de tarde será o maior momento, mas não se esqueça do john. Lembre-se também que a madrugada que vem pela frente deve ser uma das mais frias do ano, e um long john sequinho será mais que bem vindo para o dia seguinte, especialmente no zero hora.

  • Dia: Domingo 5 de junho
  • Tempo: O dia tende a ser mais aberto e o sol deve predominar, ainda que haja algumas nuvens. Volta a gelar durante a noite.
  • Vento: Mais calmos e tendendo a girar. Indicação de oeste/sudoeste fraco pela manhã, devendo virar para sudeste ao longo do dia e podendo soprar de leste já durante a tarde
  • Ondas: 2 a 2,5m de Sul. Potencial para séries de até 3m nos tops de sul
  • Direção: Sul 11 a 12 s Absoluto
  • Tendência: ALTAS ONDAS (HIGH SURF ADVISORY)! É o ápice do swell n.14.

Destaques

Domingão de altas e predomínio de sol, mais uma vez! O swell de sul atinge o ápice com alta potência e período em 11 a 12s, devendo trazer uma ondulação bem consistente. Como o sistema que gerou as ondas se afasta da costa, a tendência é de ventos bem mais calmos, provavelmente fracos com no máximo um ou outro momento moderado. Os mapas indicam brisa de oeste/sudoeste perdendo intensidade ao longo do dia, e uma rápida lestada na 2a. Na prática, esse é um dia de transição nos ventos e por isso passível de algumas surpresas, como por exemplo um zero hora com noroeste fraco ou uma possível antecipação do vento leste já nesta tarde, ou pelo menos no fim de tarde, o que ajudaria muito os picos de sul. Independente de girarem ou não, certamente estarão bem mais calmos que a ventania de sábado, e isso já é positivo para a qualidade das ondas - nossa principal preocupação, uma vez que os ventos soprarão muitos intensos na véspera do ápice.

Ainda que seja uma ondulação menor que outras bombas recentes, merece respeito e pode rivalizar com as maiores de sul 2010, que foi um ano abaixo da média em bons swells desta direção. Sem dúvida, as maiores ondas quebrarão nos preferenciais de sul, um pouco menores nos de sudeste e passando meio por fora ou chegando bem menor nos de leste puro. Ainda teremos uma considerável variação de marés, que também influenciará no surf. Resumindo: A formação dependerá bastante do vento, mas acreditamos que vale apostar umas fichas e conferir de perto, afinal com uma ondulação grande vários picos funcionam. Para ajudar a convencer a patroa - caso ela não surfe - diga que domingo tem sol! Nessa data ocorre também o desafio de tow in da ASRM em Maresias, na torcida pelo vento leste.

SEQUÊNCIA:

Caramelo de sul na 2a

A segundona promete ser o dia com mais qualidade do swell n.14, com as ondas já baixando mas apresentando predomínio de vento leste/NE. Potencial para 1,5m com séries maiores, de sul. Preferência total para os preferenciais desta direção. Na 3a as ondas abaixam drasticamente, mas pela manhã ainda deve restar meio a um metro, caindo rápido ao longo do dia, que promete um over terral do quadrante norte em função do próximo ciclone que deve se formar. Na quarta as ondas volta a esboçar uma reação de sudoeste com algum vento do mesmo quadrante (por enquanto não é indicado nada muito intenso), bem mais perceptível nos picos de sul, pois passa por fora da maioria dos demais. De 5a para 6a o mar ganha pressão de sul com possibilidade de mais um high surf de sul, junto com mais uma frente fria e chuva. 

3- Tábua de Marés de São Sebastião:

Lua

Minguante para Nova

 

 

 

 

 

SÁB

04/06/2011

 

DOM

05/06/2011

02:58

1.0

 

03:23

1.0

10:49

0.1

 

11:36

0.2

16:32

1.1

 

17:17

1.0

23:19

0.4

 

 

 

 

 

 

 

 

 

    

 

 

 

 

 

Sunrise

06:41

  

Primeira luz

6:12h

Sunset

17:18h

 

Última luz

17:39h

 

 

 

 

 

Temperatura média da água

22 graus

 

4- Análise das tempestades: Ação Non Stop

O Atlântico Sul continua muito fértil e a produção de ondas segue a todo vapor. Após a passagem do poderoso ciclone que gerou a última mega bomba, um novo e breve centro de alta pressão voltou a dominar a costa sul/sudeste do Brasil. Enquanto isso, um novo sistema ao extremo sul do continente seguiu ganhando força e avançando para norte (em nossa direção), e já nesta 6ª, hoje chega ao sul do país. Essa tempestade não tem um formato ciclônico tão bem definido quanto o anterior, destacando-se mais por suas longas pistas de sul/sudoeste que trarão as ondas e ventos da mesma direção. É um sistema típico de inverno, mas felizmente não ficará estacionado muito tempo e já deve ser repelido por um novo centro de alta no domingo.

As atenções então passam a se concentrar em um novo centro de baixa pressão que deve surgir bem próximo da costa sul (altura de SC), devendo rapidamente ganhar força e se transformar em mais um forte ciclone extratropical. Antes da produção do swell seguinte (n.15), o fato mais importante é que ele deverá reger o padrão dos ventos e do clima que teremos entre o final de domingo e o meio da próxima semana, quando eles mudarão de sentido e intensidade várias vezes, incluindo no playlist uma lestada na 2ª, um noroeste matador na 3ª (esquentando rápido) e a volta do fluxo do quadrante sul (nova frente fria) a partir de 4ª, provavelmente mais ameno que o deste FDS. Esse ciclone tende a ter um rápido deslocamento para alto mar, mas não antes sem nos mandar a ondulação seguinte, podendo começar a esboçar uma reação na 4ª e subindo rápido na 5ª, com boas chances de um high surf de sul entre esse dia e 6ª.

No longo prazo, dois pequenos sistemas localizados entre o sul e o sudeste do país prometem mais ação e podem desenrolar uma história interessante, mas ainda sem muitas confirmações de seu enredo. Consolidando-se ou não como um swell maker (fonte de mais ondas), são grandes as chances de começarmos o outro FDS com ventos do quadrante sul/sudoeste. Estamos de olho pra ver se serão só algumas pistas dessa direção ou se daí nasce outro ciclone pertinho de nós. Nossa bola de cristal está fumegando!     

5- Domingo Green

Pra fechar, lembramos também que 5 de junho é o DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE. Um dia para se preocupar, refletir e agir, muito mais que para comemorar. Os impactos em nosso planeta já são mais do que visíveis e os tristes recordes não param de ser quebrados: 2010 foi o ano mais quente da história (média global desde que começaram as medições), pior temporada de tornados nos EUA, a seca que durou meses na China, a onda mortal de calor na Rússia (15 mil mortos), o ciclone monstro na Austrália, as enchentes cada vez maiores no Paquistão e assim por diante. Mais próximos de nossa realidade, alguns dos efeitos são o aumento das chuvas, as enchentes, os deslizamentos, temperaturas mais extremas, momentos de umidade relativa perigosamente baixa e ressacas cada vez mais destrutivas e frequentes no litoral. As tempestades estão ficando mais intensas e surgindo em lugares onde elas não deveriam ocorrer (Ciclones tropicais Catarina, 2004, Anita, 2010, Arani, 2011). E essa parte nós sabemos bem, já que ironicamente um dos poucos efeitos colaterais positivos nessa lambança climática é o surf. Mas não a qualquer custo.    

Grandes mudanças começam com pequenas atitudes. Vamos fazer a nossa parte.

Valeu, amigos. Por enquanto é isso.

Não deixem com que a abundância deste outono o faça esquecer-se das vacas magras do verão.

Boas bombas a todos!

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