por Luiz Alberto Mendes

 

Ando para baixo. Desesperançado, entristecido e sem ânimo até para escrever. Sai da prisão tão cheio de esperanças de fazer a diferença, de colocar minha vida, minha alma em prol da construção de um mundo melhor... E vejo que meu empenho, minha vontade, de nada adiantou. Passados mais de 10 anos e sinto que estou me debatendo ainda contra muralhas de pedra. Que estou chorando e sofrendo do mesmo jeito de quando estava preso. O preconceito é uma barreira que por mais eu faça, não consigo ultrapassar. Todos os dias ele me é esfregado na cara. Humilha e me deixa sem ação. Outro dia um amigo falou que eu devia contrapor a isso as minhas conquistas. Que muita gente já se sentiu bem com as coisas que escrevo, que outras se sentiram motivados a continuar. Mas a somatória daqueles que acham que eu devia ter morrido e que não sabem porque estou em liberdade ainda, é muito maior. Quando penso que vai dar certo, que vai haver uma reação, que encontrei as pessoas certas, novamente sou decepcionado. Faz quase 11 anos que as pessoas chegam até a mim, me enchem de entusiasmo e depois desaparecem. Se eu fosse contar aqui os projetos para se trabalhar com presos e egressos que apareceram e que de repente evaporaram, ficaria horas descrevendo. Já donos de restaurantes me procuraram para montar restaurante com egressos; donos de padaria para montar padaria com egressos; cursos de conserto de bicicleta para internos, arrumei até verba com uma empresa de investimentos e as pessoas que propunham desapareceram; fábricas de blocos, de bolas de futebol, de um monte de coisas; empreiteiros com projetos de construção; inúmeros projetos artísticos. ONGs. OCIPs (fui colocado como vice presidente de uma delas). Até montamos uma cooperativa de trabalho com egressos e presos com uma associação de cooperativas que me foi proposto, com verba oficial e tudo, que eu acreditei e embarquei. Perdi meu tempo e fui vilmente usado para promoção de pessoas. Concursos literários que começam em um ano e no outro não houve mais...O ultimo foi um sujeito que estava fazendo tese de mestrado e descobriu que boa parte do pessoal que mora nas ruas e se alimenta do lixo de restaurantes como cães, eram egressos da prisão. Eu quis correr atrás para ajudar essa gente, quis números para mostrar para a população, até escrevi aqui no blog questionando se era coragem ou covardia deles. O rapaz defendeu a tese, conseguiu seus objetivos e desapareceu, nunca mais ouvi falar. Eu fiquei aqui me mordendo com meu entusiasmo, querendo saber porque. Isso sem falar das propostas e promessas oficiais, de toda palhaçada que quiseram fazer com meu nome. Nem posso falar muito porque senão vão querer me prejudicar mais do que já estou prejudicado. Exatamente por isso que nunca aceitei ser modelo de nada. Adoeci, me lasquei todo e estou aqui, doente do coração de tanto entusiasmo inútil e esperanças perdidas. O pior de tudo é que se aparecer outra situação dessas em que eu sentir a viabilidade, como todas as outras, sei que vou embarcar novamente. Estou miseravelmente comprometido com a idéia de que ainda podemos mudar algumas coisas. Todos esses projetos não aconteceram por muito pouco, alguns pela seda de um fio. Faltou empenho, honestidade e coragem dos parceiros que me procuraram e o maldito preconceito a me bloquear sempre. Perdoem-me o pessimismo, a tristeza, mas não aquento mais me calar e sofrer tudo isso sozinho, preciso dividir.

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Luiz Mendes

22/01/2015. 

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