Compartilhe menos (na rede)

por Caroline Mendes
Trip #224

Colecionar arquivos digitais é mais ecológico do que ter objetos físicos? Nem tanto

Se você nasceu há mais de duas décadas, seus pais devem ter, com sorte, poucas dezenas de fotos suas quando bebê. Agora, se você virou mãe ou pai nos últimos cinco anos, provavelmente já acumulou milhares de fotos e vídeos de seu rebento no HD, no tablet, no celular. Talvez, tenha até um ultrassom em 3-D dele, compartilhado, claro, no Instagram.

Nunca se produziu tanto conteúdo digital. O lado bom dessa história é que menos plástico, menos papel e menos lixo estão sendo produzidos no mundo, o que aliviaria um pouco a conta com a natureza, certo? Nem tanto.

Guardar uma música em MP3 ou ouvi-la via streaming não é, necessariamente, mais ecológico que ter o vinil da mesma música. Tirar uma foto digital tampouco polui menos que um registro clicado com uma câmera analógica. “Quando você faz um streaming, está usando três máquinas: a sua, a que está transmitindo esses dados para você e a que está com o conteúdo armazenado. Baixar um filme e salvá-lo em um pen-drive, portanto, é muito melhor para o mundo do que assistir a ele no YouTube ou no NetFlix. E melhor ainda que baixar é comprar o DVD”, diz Luli Radfahrer, ph.D. em comunicação digital.

A vangloriada nuvem de informação, onde boa parte desses dados são armazenados, na verdade, não tem nada de aérea. Ela existe fisicamente e é alimentada por uma outra tecnologia, já centenária: a eletricidade. “O termo ‘nuvem’ foi criado por engenheiros para representar o momento em que há um encontro de muitos cabos e, então, para não desenhar fio por fio, desenharam logo uma nuvem”, conta Radfahrer. De acordo com um relatório feito pelo Greenpeace sobre o assunto (How clean is your cloud?), se a nuvem fosse um país, seria o quinto colocado na lista dos que mais consomem eletricidade.

Mas calma. Não precisa boicotar o botão compartilhar a partir de agora (embora um pouco de parcimônia e reflexão neste item sejam sempre bem-vindas). O grosso do tráfego global de dados não é de gente compartilhando o melhor vídeo da última semana, mas sim de megacorporações trocando muito mais terabytes do que nossa banda não tão larga assim ou nosso 3G capenga permitem.

“Está na mão dessas grandes empresas tornar suas nuvens mais limpas, alimentadas por energia menos sujas”, completa Radfahrer. O Google, por exemplo, alega que todo o carbono emitido em seus dantescos databases é neutralizado posteriormente. E diz ainda que investiu mais de US$1 bilhão em novas formas de energia renovável. Em tempo: apenas em 2012, o faturamento do site foi de... US$12 bilhões.


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