Ela estava salgada e coberta de óleo de macadâmia, a respiração estava lenta e os olhos, fechados
Eu não conheci a Ana por causa do corpo dela. O corpo dela veio para mim como uma surpresa. Dizem que ela é a musa das bichas, dizem que ela é a melhor stylist do Brasil, dizem que ela tem uma mente furiosa e uma visão afiada. E eu tenho a grande sorte de dizer que a Ana é a minha amiga.
É muito bom poder virar amiga das pessoas que você é meio fã, das pessoas que você admira, das pessoas que você tinha um certo medo e respeito. Lembrei dela nas festas de moda, ela sempre meio longe, com um sapato que me parecia incrivelmente chique e impossível de andar. Mas a Ana foi me encontrar em Cabo Verde e passamos uns dias no mesmo quarto de hotel, comendo coisas gordurosas nas ruas ensolaradas de uma ilha no meio do Atlântico e longe de tudo que conhecemos. Ela me ensinou a botar uns looks brilhantes para pedir room service e comer na cama.
Fomos a Cabo Verde fotografar Mayra Andrade para a última edição da Trip e não sabíamos o que nos esperava por lá. Ela fez o styling e, por mais que vista os outros lindamente, é, das pessoas que já encontrei, a que mais ama ficar pelada – e eu já encontrei bastante gente pelada nesta minha vida aqui.
Fiz essa foto no nosso último dia no arquipélago africano. Nosso parceiro João Wainer já tinha voltado ao Brasil, e eu e a Ana tínhamos uma escala de dez horas na Ilha do Sal. Já havíamos fotografado tudo que tínhamos que fotografar, já havíamos trabalhado tudo que tínhamos que trabalhar.
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Pegamos um hotel e passamos o dia tomando gim tônica deitadas nas espreguiçadeiras na praia, se bronzeando, lendo, falando dos meninos que a gente gosta. Voltamos para o quarto e fiz uma massagem nela antes do jantar e de irmos para o aeroporto. Fiz essa foto depois que terminei, ela estava salgada e coberta de óleo de macadâmia, a respiração estava lenta e os olhos, fechados. Lá fora, as sombras começavam a se alongar, a luz começou a amarelar e se aquietar, os velhos começaram a sair de casa para passear.
Mandei essa foto para Ana depois e ela não se reconheceu. Talvez seja por isso que sempre a admirei. Ana está sempre buscando, sempre se renovando, sempre se surpreendendo para se reconhecer como uma mulher nova. Às vezes, é para isso que serve a fotografia, para que uma pessoa possa ver as possibilidades da própria pele.
Créditos
Imagem principal: Autumn Sonnichsen