Anotações Antigas

por Luiz Alberto Mendes

ANOTAÇÕES  ANTIGAS

 

A você que esta me lendo:

Aqui desejo colocar algumas coisas que pensei e andei colocando em vários cadernos desde o tempo em que estive preso. Não sei bem porque, achei que essas conversas pudessem ser interessantes. Por favor, leia e me fale se gosta:

 

Eu era apenas um condenado à prisão eterna, deixando em meu rastro, o cheiro de meu destino docemente infeliz.  Havia um vazio e nenhum vazio era tão vazio. Nem o vazio da inutilidade e das vidas sem rumos a que éramos submetidos. Mas, mesmo assim, eu era forte nisso. Em minha dor de liberdade perdida, sozinho para sofrer e suportar. Havia dignidade nessa atitude. Eu era aquele que todos sabiam que sofria e que iria sofrer mais ainda, irreparavelmente transfigurado.

 

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Na prisão a dor leva a uma beleza e a um encanto que beira ao sobrenatural. A religião é alternativa natural daqueles que sofrem. O pensamento transcendente eleva o preso a um processo instantâneo de uma semi-santidade. Ele busca a Deus como alternativa a suas dores e sua vida sem sentido. A uma luz que o reerga de suas sombras e misérias interiores. Convence-se de seus erros e bate à porta do maravilhoso.

 

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A vida para mim era interminável. Nunca a superei. Vivi em uma constante perplexidade infantil. Mas também era passional e inquisitivo ao extremo para viver em paz por muito tempo. Tentava que minha área de interesses não se tornasse apenas circunscrita. Procurava certas verdades que sequer imaginava onde buscar. Havia chaves, segredos, códigos que, com fervor sectário, escafrunchava sem imaginar o quão distante estava.  Prezava completamente; reverenciava, para ser mais exato. Abominava tudo que pudesse atrapalhar minhas buscas. O egoísmo, as mesquinharias, vilanias e crueldades todas. Lutava contra tudo isso dentro de mim, estúpido, até as lagrimas. Doía demais o que havia de errado em mim. Inquieto e desajeitado, tentava uma escolha.

 

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Meus olhos tropeçavam na clareza de tudo que estava vivendo e dissolviam-se em angústia profunda. Uma experiência desagradável que ocorria sempre que eu vivia algo que me trouxesse algum prazer. Era como se parte de mim ficasse me vigiando obsessivamente em busca de manter atento à realidade. Jamais pude sonhar sem me culpar. E assim me aborrecia a luz, me enervava o sol alegre e quente. Toda aquela claridade com que enxergava as coisas todas, me perseguia, qual carrasco de maldade profunda. Queria em meus olhos o segredo, a minha alma. Não era bom ou mal, apenas triste e humano. Trazia a arder no peito o tumulto e o clamor de um largo oceano. A clareza da realidade era tão súbita quanto o sopro do vento, e me lançava à escuridão do desespero. Esfaimada, rangendo os dentes, sedenta do meu sangue, a angústia acordava-me a corroer...

 

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Luiz Mendes

22/06/2009.

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