por Luiz Alberto Mendes

 

Ontem estivemos com o Silvio, meu amigo e advogado,  que nos contou uma história que ele chamava de "A história do Zé da Tabua".

Então, havia um garoto que dava muito trabalho ao pai. Vivia aprontando, fazendo traquinagens, incomodando as pessoas e constantemente o pai recebia reclamações dele. Naquele tempo, bater era o costume. Como se educação entrasse pela pele ferida. O pai, depois de muito falar, sem alternativas, "sentava a madeira" no moleque. Mas não adiantava. Parecia que até o incentivava, pois quanto mais espancava, mais ele aprontava. Quebrava vidraça da vizinha, "cabulava" aulas para ir nadar na lagoa, respondia para a professora, roubava no super mercado, tomava coisas dos meninos mais novos; as queixas se sucediam intermináveis. O pai, que amava o filho, estava cansado de bater e não resultar, não sabia o que fazer para contê-lo. Até que teve uma idéia.

Pregou uma tábua resistente e bastante larga para chamar a atenção, no meio da sala da casa onde moravam. Chamou o garoto na sala e lhe disse:

_ Meu filho, cansei de te bater; não baterei mais em você, por mais que mereça. Doravante, cada vez que você cometer alguma coisa errada eu vou pregar um prego nessa tábua.

_ Só isso, pai?

_ Só.

O menino saiu de casa contente, pensando "que bom, não vou apanhar mais!" E foi aprontado das suas e o pai, sempre que descobria, pregava mais um prego na tábua.

Depois de algum tempo, o garoto na escola levou colegas de classe para fazer trabalho em conjunto em casa, como pedira a professora. Quando seus companheiros de escola viram a tábua cheia de pregos no meio da sala, ficaram curiosos. O Pai fez questão de esclarecer, contando a história. Os meninos olharam a quantidade de pregos e olharam Zezinho que, envergonhado, não mais os trouxe para fazer trabalhos em casa. Quando cresceu mais, tornou-se adolescente e começou a namorar, levou a namorada em casa para conhecer o pai. Esta, ao ver a tábua tão evidente e cheia de pregos, quis saber o que era aquilo. O pai novamente contou: era a quantidade dos erros de seu filho. Nem é preciso dizer que a namorada, dia seguinte, deu uma desculpa e terminou o namoro com o Zezinho.

O Zé sentiu-se humilhado e foi pedir ao pai para tirar aquela tábua e parar com aquele constrangimento. O pai recusou-se mas deu-lhe uma alternativa. Só havia uma maneira de tirar a tábua dali. A cada ação boa que o filho cometesse, ele tiraria um prego e quando não tivessem mais pregos, retiraria a tábua.

Zé, agora já um rapaz, começou a ajudar pessoas, aos poucos dar boas notícias ao pai de seu comportamento e errar menos. O pai tirava dois, três pregos e pregava menos. Com mais consciência, Zezinho já havia completado o ensino fundamental, pegou gosto pelo estudo, concluiu o ensino médio e quis progredir. Foi classificado nos vestibulares e entrou para a universidade pública. Os pregos foram diminuindo cada vez em maior quantidade. O Zé transformou-se em um homem, casou, e quando faltava só um prego, nasceu o seu primeiro filho.

Todo feliz, foi levar aquela boa nova para o pai. Ele já era avô: estava lhe dando um neto. Seu pai, muito contente, tirou o ultimo prego e a tábua da sala. Quando ia jogar a tábua fora, Zé não deixou e pediu a tábua ao pai.

_ Mas porque, meu filho, ai só tem as marcas de pregos...

_ Por isso mesmo, pai, esses foram meus erros quero guardar porque essa é a trajetória de minha vida. Foram meus erros que me ensinaram e me mostraram como eu devia acertar. Devo a eles todos meus acertos e quero guardar para jamais esquecê-los e um dia poder mostrar a meus filhos.

Moral da história: é através de nossos erros que construímos nossos acertos; quanto mais erramos, mais acertaremos.

                                          **

Luiz Mendes

16/02/2015.   

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