Pedras de Fogo
Queria que minhas palavras fossem como pedras de fogo. Onde as atirasse, de fuzil ou bazuca, que explodissem em incêndios incontroláveis. Queria ter o poder de um Marat com seu jornal (e assim deviam ser os jornais; eu faço o meu, você faz o seu...) incendiando o povo de Paris para a maior das revoluções da história humana. O homem sofria dores horríveis, adoecido. Escrevia e foi assassinado, dentro de uma tina de madeira cheia de água quente para ter algum alívio.
Podia até ser um Voltaire, com sua ironia e sátira, usando palavras para agredir e desmascarar a hipocrisia dos costumes e a patifaria da realeza. Seu livro “Candice” ironiza do começo ao fim os chamados “nobres”. Esse já seria mais próximo; sua falta de caráter era muito falada. Esteve preso e foi perseguido muito mais por conta dos múltiplos empréstimos que fazia e não pagava, do que pelo que escrevia. Seria estelionato nos dias de hoje. Fugiu de Alexandre, o Czar russo, que queria colocá-lo “a ferros” pelas canalhices praticadas em sua corte.
Queria, por exemplo, produzir um discurso que explodisse no mundo como o Discurso de Argel de “Che” Guevara. E fica mais pungente ainda. É um líbero em que ele acusa a União Soviética de exploração pela pratica dos mesmos juros do mercado capitalista com seus países “satélites”. Volta para Cuba e renuncia aos cargos que ocupa (Ministro da Defesa e Diretor do Banco Central). Já não concorda com Castro na aliança com aquele pseudo protetor. Abandona tudo e segue para a selva boliviana para morrer pela pureza dos ideais que defendia.
Confesso que tenho a febre, a dor da esperança, esse delírio, vontade constante de desmascarar o complexo de decência das pessoas. Tenho consumido a vida por um cano secreto, abrindo portas dentro de mim. Sem redes por baixo, sigo ao longo e ao largo da multidão. Pondero, canto e guardo da vida o brilho de meus olhos ardentes. Afio minhas palavras com diamantes, esperando minha vez de dizê-las agudamente.
Não sei de que ou para que, mas acho que viver é uma longa espera. Pela morte? Sim, talvez. Por algo além do desarrumado natural da existência.
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Luiz Mendes
29/03/2011.