Fundador do Memoh, que tem como principal plataforma fazer o homem refletir sobre modo de agir, discute masculinidades
Pedro de Figueiredo foi um publicitário bem-sucedido, mas em certa altura decidiu largar tudo para assumir um papel importante na luta pela igualdade entre os gêneros. "Eu era o homem bárbaro, publicitário e branco que achava que estava abalando. Precisei gerar uma ruptura disso: deixar o emprego, porém, foi a maior loucura que já fiz. Aquela vida já não fazia mais sentido do ponto de vista político; da minha contribuição para a sociedade", conta.
Foi então que Pedro criou o Memoh, um negócio social que tem como principal plataforma fazer o homem refletir sobre seu modo de agir. A iniciativa funciona em três frentes: promovendo encontros virtuais que debatem sobre masculinidades, produzindo conteúdos e também prestando consultorias corporativas.
Quando começou, no entanto, ele assume que fez muita coisa errada. "Entrei no debate dizendo o que a mulher precisa fazer ou deixar de fazer sem me reconhecer idiota. O esforço é o de deixar de ser idiota", diz.
Apesar de ter aprendido muito desde o início, Pedro tem aversão à imagem de homem iluminado. "A importância do debate sobre masculinidade existir é se for atrelado ao movimento de mulheres. Se virar um espaço para homem chorar e se encerrar nisso, vai virar mais um lifestyle; metrossexual 2021", reflete.
No papo com o Trip FM, o ex-publicitário ainda fala sobre paternidade, cancelamento e dinheiro. Ouça o programa no Spotify, no play nesta reportagem ou leia um trecho da entrevista a seguir.
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Trip FM. Existe um movimento sobre o qual vale a pena discutir, que é o cancelamento do homem branco. Como você tem se dedicado a estudar o comportamento masculino, gostaria de saber sua opinião e se, às vezes, você se sente cancelado.
Pedro de Figueiredo. É a pergunta do momento. Eu sou um homem branco, heterossexual, da zona sul do Rio de Janeiro. Estou no topo do privilégio. Sinceramente, esse cancelamento que nós homens temos medo é, na verdade, uma falta de ser questionado. O cancelamento na maioria das vezes só está chamando a pessoa a se manifestar. Atuando no debate masculinidades, preciso ter muito cuidado. É um debate sério, que envolve a vida das pessoas. Mas isso não me impede de falar. Esse conceito do lugar de fala estabelece de onde você fala. Eu, como homem cisgênero e tudo mais, entendo que estou em um lugar na sociedade e esse lugar traz uma série de preocupações que eu preciso me inteirar para manifestar alguma opinião.
Você já se abriu sobre a falta de intimidade com o seu pai. Gostaria que você falasse disso para gente, já que é uma questão muito presente em seu trabalho também. Meu pai, como a grande maioria, foi ausente. Ele fazia coisas clássicas da relação distante pai e filho: me levava para dar uma volta de moto ou para ir no Maracanã, mesmo não gostando tanto de futebol, uma vez por mês. Ele se separou da minha mãe e ela foi a responsável por quase todo o meu desenvolvimento. O cuidado do homem é algo distante desde o momento em que a gente nasce. Em um debate sobre paternidade, tão importante quanto falar de afeto é falar de cuidado e responsabilidade. Eu amava muito o meu pai, apesar de nunca ter dito isso a ele, o que não impede de ele ter sido um grande babaca com a minha mãe.
Vamos falar de outra influência que certamente foi grande na sua vida também, que é a de ter sido publicitário. Poucos meios são mais machistas do que esse. Fale um pouco desse planeta. O Memoh alcançou essa visibilidade muito por essa habilidade técnica adquirida nesse período. Quando eu vou fazer um evento em agência de publicidade que sei que tem gente que me conhece, sei também que terá gente que vai lembrar de mim nas festinhas de agência, sendo o heterotop clássico de agência de propaganda. Eu era o homem bárbaro, publicitário, branco, achando que estava abalando. Eu precisei gerar uma ruptura disso. Deixar o emprego foi a maior loucura que já fiz, mas aquela vida já não fazia mais sentido para mim do ponto de vista político, da minha contribuição.
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