por Mara Gabrilli
Tpm #88

Revendo textos que escrevo para esta coluna, reavaliei palavras, sensações e sentimentos

 

Não está fácil começar este texto, pois passei algumas semanas organizando colunas anteriores com o objetivo de republicá-las. Ler crônicas de minha autoria me fez viajar no tempo, res-sentir emoções, aguçar minha autocrítica. E isso me fez enjoar de mim mesma. Será que você também se aborrece – de você e desta coluna? Foi necessária uma força hercúlea para conseguir fazer esse trabalho em cima das minhas produções. Caso se tratasse de outro autor, eu teria bem menos resistência para vencer. Não me caberia brigar contra a minha força, com a minha artilharia.

O que aconteceu de mais próspero em tudo isso foi concretizar a teoria freudiana de que se aprende com a gente mesma. Não se trata de autocentramento, mas da disponibilidade de aprender na própria matriz. Por várias vezes li frases que me surpreenderam por ainda não saber que eu pensava daquela forma. O pensamento é tão dinâmico que o conhecimento pode chegar anos depois, gerado pela sua própria matéria-prima. Para isso é fundamental um tom de leitura que assuma seu desconhecimento. É um exercício antiarrogância assumir-se ignorante de si mesmo e, melhor ainda, se ousar a premissa básica de que estamos todos num igual nível na escala da dignidade humana.

No trabalho em equipe é visível como a presunção pode liquidar a qualidade. Fui assistir ao treino do meu time de vôlei paraolímpico. A PPP (Projeto Próximo Passo) é o programa de atletas do Instituto Mara Gabrilli. Temos as modalidades atletismo, natação, remo adaptável e vôlei sentado – esta última nova no Brasil. Como o nome diz, os atletas jogam sentados, seis de cada lado.

Eterno aprendizado
Há cinco anos montamos o time. Eu saía pela rua procurando meninos sem perna que estivessem no farol para levar à academia e oferecer estrutura de preparo físico e treino. Passamos por muitas dificuldades, troca de equipe técnica e, por duas vezes, o time quase acabou. Conseguimos mandar um atleta para a Paraolimpíada de Pequim e hoje ele é o terceiro no ranking brasileiro de atletismo. Mais uma vez estamos recomeçando... Fiquei observando e querendo entender o que movia a interação da nova equipe técnica com o time.

O que buscamos é dignidade de vida. A humildade é a capacidade intrínseca de se reinventar e inovar. Isso nos exige um estado de prontidão para desvios. O filósofo John Dewey, do início do século passado, disse que “é preciso aprender a aprender”.
Pretendo publicar um conjunto dessas colunas, o “the best of”, e espero que você também possa aprender com elas e descobrir que em um time que está ganhando se mexe sim.

*Mara Gabrilli, 40 anos, é publicitária, psicóloga e vereadora por São Paulo. Fundou a ONG Projeto Pró­ximo Passo (PPP), é tetraplégica e foi Trip Girl na Trip #82. Seu e-mail: maragabrilli@camara.sp.gov.br

fechar