por Fernando Luna
Tpm #93

Comemorando a quinta vez finalista do prêmio Esso, a Tpm continua tentando ser sempre real

Pode marcar na cartela: um, dois, três, quatro, cinco. Pela quinta vez em seus oito anos de publicação, Tpm é finalista no prêmio Esso, o mais importante do jornalismo brasileiro. Disparado, a revista feminina que mais vezes chegou lá.

Levamos em 2005, com a matéria “Descrimine já”, sobre a legislação do aborto. Desta vez, é a capa da edição de fevereiro que concorre na categoria Criação Gráfica. Ideia da Monique Schenkles e da Rafaela Ranzani. Lembra? Elas inventaram a Barbie das mulheres-frutas, um resumo visual das musas do agronegócio do funk: Mulher Melancia, Mulher Moranguinho, Mulher Jaca e Mulher Maçã.

Aliás, ganha o prêmio Esso de Jornalismo Investigativo quem responder: quantas modelos da Ralph Lauren dá para fazer com os 121 centímetros de quadril da Mulher Melancia? Photoshoparam a franco-sueca Fillipa Hamilton, que saiu na foto – ou seria melhor chamar de ilustração? – com a cabeça maior do que os quadris.

Virou tendência. Bom, pelo menos na Ralph Lauren. Uma semana depois, foi a vez da top russa Valentina Zelyaeva aparecer ridiculamente magra, com uma cintura de fazer vespa entrar no Vigilantes do Peso.

Esses dois clássicos do Photoshop Disasters (dá uma olhada nesse site) são tão bizarros que chegam a ser engraçados. Mas funcionam como caricatura de um fenômeno bem mais preocupante: a manipulação sistemática das fotos de mulheres.

Virou algo tão comum na maior parte da mídia, que quase se acha normal ver a cantora posando de biquíni e barriguinha impecável dois meses depois de ter filho. Ou a atriz em seus 50 e tantos anos sem uma ruga no rosto, uma única que seja, só pra gente reconhecer quem é a pessoa da foto.

Vai explicar para o seu espelho que isso não existe. Depois, acham estranho que as mulheres tenham dez vezes mais chances de fazer cirurgia estética do que homens e sofram 43 vezes mais de distúrbios alimentares. Photoshop demais faz mal à saúde. Use com moderação. No Badulaque desta edição, você lê como a Tpm usa o programa.

Enquanto isso, na França, a deputada Valérie Boyer apresenta um projeto de lei que obriga a identificação de imagens manipuladas. É, como nos maços de cigarro. Em vez de “Esta necrose foi causada por tabaco”, alguma coisa como “Esta imagem foi modificada digitalmente e pode não corresponder à realidade”.

Ah, sim: realidade é tudo aquilo que existe entre a Mulher Melancia e a modelo da Ralph Lauren.

Fernando Luna, diretor editorial

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