Começa hoje (11), a distribuição gratuita de pílulas anticoncepcionais em estações do metrô, trem e ônibus paulistanas. A liberdade sexual feminina está mais perto de atingir todas as mulheres
Por Bárbara Moreira/Ilustração Cirilo Dias
Sexo. Por prazer, por impulso, por vontade irrefreável, por atitudes impensadas. São muitas as explicações para um dos atos mais humanos que existe. Mas por muito tempo essas definições representavam uma realidade distante para as mulheres.
As coisas começaram a mudar em agosto de 1960, nos Estados Unidos, com o surgimento da pílula anticoncepcional. Ela invadiu o mercado para transformar o cenário que ainda não privilegiava as vontades femininas. As cartelas preenchidas por pequenas bolinhas brancas, contendo hormônios responsáveis pelo efeito contraceptivo, foram levantadas como bandeira da liberdade sexual feminina. O sexo exclusivo para reprodução e excludente do desejo começava a ser combatido.
Em um mundo perfeito, essa revolução sexual teria atingido todas as mulheres, mas, principalmente no Brasil, isso não aconteceu. Segundo pesquisa realizada pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas em 2005, apenas 29,32% das mulheres brasileiras utilizam métodos contraceptivos.
O alto custo de alguns métodos é um dos fatores que fazem com que algumas mulheres vivam como há 50 anos. A pílula com menor taxa hormonal, que causa menos efeitos colaterais, por exemplo, custa entre 34 e 45 reais. Para alguém de baixa renda, é quase impossível manter esse tipo de investimento, e a gravidez indesejada, a falta de planejamento familiar e os abortos clandestinos são conseqüências da concepção restrita.
Neste mês de julho, uma nova iniciativa da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo busca reverter essa realidade, estendendo, inicialmente, a todas as paulistanas os benefícios do uso das pílulas anticoncepcionais. Para isso, o medicamento será distribuído, gratuitamente, em unidades das farmácias Dose Certa instaladas nas estações de metrô, trens e ônibus. Além das pílulas, que serão de baixa dosagem hormonal e entregues mediante prescrição de médicos da rede pública, haverá medicamentos exclusivos para mulheres em fase de amamentação.
Em maio, o ministro da Saúde José Gomes Temporão anunciou um programa similar. Cartelas de pílulas anticoncepcionais serão vendidas, no país inteiro, entre R$ 0,30 e R$ 0,40 nas unidades da Farmácia Popular.
A partir de agosto, outro medicamento que será distribuído gratuitamente pela rede pública paulista é a pílula do dia seguinte. Conhecida por ser um método de emergência, ela é considerada pelos mais tradicionais como uma espécie de aborto, mas, segundo a coordenadora do programa da Saúde da Mulher da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Tânia Lago, até o momento nenhuma crítica foi feita.
Por conter altas doses hormonais, que inibem a fecundação até 72 horas depois da relação desprotegida, a pílula do dia seguinte não será distribuída nas farmácias Dose Certa. As mulheres que desejarem usar o medicamento precisarão passar por consulta médica. “Este produto terá distribuição controlada para unidades de saúde municipais, e os médicos responsáveis serão encarregados de orientar as pacientes com relação à importância do uso de preservativos, para evitar, além da gravidez, doenças sexualmente transmissíveis”, explica Lago.
Com toda essa comoção positiva em torno das pílulas anticoncepcionais, a camisinha foi relegada a segundo plano. Com campanhas concentradas em períodos de festas, como o Carnaval, o incentivo ao uso de camisinha some ao longo do ano. Como método contraceptivo mais barato e o único eficaz também contra DSTs, os preservativos precisam retomar seu espaço, assim como possíveis iniciativas para educar e conscientizar a população em relação ao uso e ao efeito de cada método desses.