O dia em que não faremos contato

por Micheline Alves
Tpm #139

O melhor jeito de viver na era digital é bem parecido com o de outras eras: vivendo, ao vivo

Se pesquisadores de Princeton, uma das maiores universidades do mundo, estiverem certos, 80% dos usuários do Facebook – você sabe, a mais populosa rede social do planeta – não estarão mais ali em 2017.

O estudo conduzido pelo Departamento de Engenharia Mecânica e Aeroespacial da universidade americana, divulgado em janeiro, compara a curva de crescimento da rede social à de uma epidemia para concluir que, tal qual a peste bubônica, ela será extinta. A turma que trabalha para Mark Zuckerberg respondeu, em tom bem-humorado, que a universidade deve deixar de existir em 2021.

Sabe-se lá quais vírus, reais e virtuais, terão tomado conta do mundo em três anos. Mas é certo que até lá a humanidade terá encontrado outras formas de exercitar um esporte que, embora praticado há milênios, foi altamente potencializado quando Tim Berners-Lee criou a World Wide Web: bisbilhotar a vida alheia. Ou, usando o termo digital mais em voga, stalkear.

Sim, cuidar da vida alheia é mais velho que andar pra frente.

Sim, a vida on-line pode ser bem divertida.

Só que o contato ininterrupto entre seres humanos propiciado pelos ambientes virtuais está deixando muita gente doente. A colunista Tania Menai fala sobre uma pesquisa do portal Huffington Post que aponta: 48% das mulheres americanas prefeririam ficar sem transar a ficar sem seus smartphones. Na página 50, a reportagem “Até que o block nos separe” mostra mulheres que penaram (ou continuam penando) para encerrar relacionamentos que não deram certo, mas que se mostram impossíveis de terminar neste mundo em que sua ex-cara-metade está sempre ali, ao alcance do mouse, ou (pânico!) pode surgir nas horas mais impróprias na tela do celular, via WhatsApp.

Estar desconectado, mesmo que por algumas horas, parece uma ideia cada vez mais estranha para muita gente. A tendência é estar disponível em tempo integral. Responder, dar like, opinar e compartilhar a qualquer hora do dia e da noite. Tomar banho, almoçar, ir ao cinema, conversar e ir dormir tendo ao lado algum aparelho sempre piscando, alerta. Há antídoto pra isso? Autor de Como viver na era digital, o britânico Tom Chatfield dá uma dica: “É importante guardar sua paixão e sua eloquência para as pessoas e ocasiões que realmente valem a pena, no presente”.

O melhor jeito de viver na era digital é bem parecido com o de outras eras: vivendo, ao vivo. 

Micheline Alves, diretora do núcleo Trip e Tpm

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