Inglesa usa a rede social para reafirmar a presença de mulheres na arte e quatro brasileiras contam como é fazer da timeline sua galeria
Há dois anos, Katy Hessel saiu de um feira de arte em Londres sem ter visto um único trabalho criado por uma mulher. "Decidi fazer algo sobre isso, mas de uma forma acessível e cotidiana, que atingiria um público maior", conta à Tpm.
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Recém-saída da faculdade de história da arte, a inglesa de 23 anos criou no Instagram o The Great Women Artists. O perfil reafirma a presença das mulheres na arte. Como lembra Katy, o trabalho delas em grandes coleções públicas na Europa e nos Estados Unidos representa menos de 5%. "Houve milhares de mulheres artistas na história, mas só agora as pessoas estão realmente tentando desenterrar esses talentos e muitas ainda não foram reconhecidas."
De post em post, a inglesa que trabalha em uma galeria de Londres apresenta novos nomes, relembra outros consagrados e revira mostras em cartaz protagonizadas por mulheres, com uma linguagem acessível.
No mês passado, o perfil virou exposição. Katy selecionou 15 mulheres para mostrarem seu trabalho na galeria Mother London, na capital londrina. Entre os trabalhos estão o registro documental de Alice Aedy e as ilustrações ácidas de Alice Skinner.
Tpm pegou carona no perfil para conversar com cinco brasileiras que fazem do Instagram sua galeria:
Verena Smit, 33 anos, artista
O trabalho da paulistana passa por imagens delicadas e jogos de palavras. Verena já participou de exposições em São Paulo, Nova York e Lisboa, colaborou com a Gucci e lançou no ano passado o livro Eu Você (Paralela).
Como o Instagram vem contribuindo para suas criações? Tem sido maravilhoso em diversos aspectos. O primeiro foi ter me dado confiança para seguir com o que estava fazendo. De certa forma, as pessoas curtirem e repostarem seu trabalho te faz acreditar que você está fazendo algo certo. Depois, tem algo com relação à troca que é muito valioso, das pessoas te escreverem, te contarem uma história, darem uma ideia.
Quais as vantagens e desvantagens de expor seu trabalho na rede? Isso tudo é muito novo, tanto para a arte como para os artistas. As galerias ainda têm uma grande importância, mas a quantidade de artistas vendendo obras pelo Instagram está sendo muito discutida. Não tem certo ou errado, acho que é apenas incerto. A vantagem obviamente é ter uma galeria de arte pessoal aberta 24 horas por dia e com gente do mundo todo te visitando.
Quais artistas você descobriu pelo Instagram e passou a acompanhar? O Ernesto Artillo é um espanhol que faz colagens maravilhosas, e o Michael Dumontier é um canadense que já teve seus trabalhos expostos no mundo todo, ganhou prêmios, mas mantém uma conta ativa. E, claro, Cindy Sherman, que entrou para a rede recentemente e causou dúvida se tudo que ela posta é arte ou uma grande brincadeira.
Juliana Azevedo, 36 anos, ilustradora
Com um traço simples, elementos geométricos e contraste de preto e branco, a paulistana ilustra suas viagens, cenas cotidianas, looks de semanas de moda internacionais e paisagens urbanas. Formada em arquitetura, já expôs seus desenhos sobre a relação entre os grafites e a cidade de São Paulo em Atenas.
Como o Instagram vem contribuindo para suas criações? Criei o @dejajuj para redesenhar as fotos que postava na minha conta pessoal, que é fechada. Daí o dejajuj (déjà vu + juj). Então, o Instagram não foi apenas uma plataforma, mas o tema.
Quais as vantagens e desvantagens de expor seu trabalho na rede? A vantagem (óbvia) é conseguir chegar a diversas pessoas que não conheço, gente que segue e comenta de outros países. Outra coisa legal é a resposta imediata. Não me influencio muito pelo quesito "qual tem mais likes", mas é interessante ver como os temas/estéticas são recebidos pelas pessoas.
Quais artistas você descobriu pelo Instagram e passou a acompanhar? Conheci o Jean Julien, que era bem ativo, postava comentários diários de atualidades. Tem um perfil muito fofo de um senhor coreano que mora em São Paulo, Drawings for my Grandchildren. Como o filho dele mudou para os Estados Unidos com os netos, ele faz desenhos das coisas que gostaria de comentar com eles, explica a vida aqui, da Coreia.
Aline Lemos, 28 anos, quadrinista
Entre tirinhas, a mineira criou o fanzine Melindrosa: Folhetim Erótico Político Fantástico do Século XXI, "quadrinhos mudos no estilo das caricaturas art déco que acompanham as aventuras de uma melindrosa em uma cidade retro-futurista." Também publicou on-line uma série de mini-biografias de artistas brasileiras nascidas até a década de 30, que sairá como livro no ano que vem.
O que une seus trabalhos? Acho que o denominador comum é a vontade de comunicar, de ser abertamente política e de criar com representatividade. Acabo tendo temas recorrentes, como feminismo, sexualidade e arte, mas já os abordei por meio de ficção científica, reportagem, erotismo, etc.
Quais as vantagens e desvantagens de expor seu trabalho na rede? Quando comecei a fazer quadrinhos, foi fundamental expor meu trabalho primeiro em grupos, depois em uma página para que ele pudesse crescer. As desvantagens existem: a resposta pode ser ruim ou inexistente. Mas, no meu caso, nem se compara à vantagem que é ter acesso a meios de publicação gratuitos e instantâneos.
Quais artistas você descobriu pelo Instagram e passou a acompanhar? Carolina Chinaski, da Argentina, Maíra Colares, de Motoca/RS, Marcela Duchamp, de Portugal e Miranda Taccia, dos Estados Unidos.
Stephanie Lucchese, 26 anos, pintora
Stephanie vem trabalhando em suas pinturas natureza morta, com um dose de ficção. "Quando pinto frutas, são inventadas." Ela integra um grupo de acompanhamento crítico em pintura coordenado por Regina Parra e Rodolpho Parigi, que discute a produção dos seus integrantes. "É para mim muito mais produtivo e enriquecedor do que o ano que passei na faculdade de arte." No mês passado, participou de mostra coletiva em São Paulo com curadoria do Marcio Harum.
Como o Instagram vem contribuindo para suas criações? Uso bastante para encontrar referências visuais. É um bombardeio de imagens em alta velocidade, de tudo quanto é assunto, que acabam permeando meu trabalho de uma forma ou outra.
Quais as vantagens e desvantagens de expor seu trabalho na rede? Acho legal a internet permitir que a gente acesse conteúdo do mundo todo, em tempo real. Mas, ao mesmo tempo, a experiência diante de um trabalho de arte no mundo real é muito diferente da virtual. Acho que a internet cria uma ilusão de experiência que pode ser um pouco perigosa.
Quais artistas você descobriu pelo Instagram e passou a acompanhar? Tenho acompanhado a Lexie Smith, que tem um projeto super interessante e inusitado sobre pão, o Bread on Earth. O instagram da Cindy Sherman e da Kara Walker também são maravilhosos, apesar de já conhecer o trabalho delas. E o Jerry Saltz, crítico de arte, tem um dos meus feeds favoritos também. Foi no instagram dele que conheci o trabalho da Hiba Schahbaz, de que gosto bastante.
Créditos
Imagem principal: Divulgação