Nem as mães são felizes

por Nina Lemos

De mãe de psicopata a mulheres que simplesmente trabalham demais e vivem com culpa

"Só as mães são felizes", cantava Cazuza. Mas peço desculpas ao ídolo para dizer que não, nem as mães são felizes. Não o tempo todo. E eu não preciso ser mãe para saber disso — outra coisa que dizem, é que as mães adquirem uma capacidade mágica de saber mais que os outros, o que eu não concordo.

Eu tenho amigas mães e eu sei que elas não são felizes o tempo todo, nem gostam de ser mães o tempo todo. Às vezes elas ficam desesperadas. E quem quiser entender mais esse “mistério”, ou esse lado menos fofo da maternidade, pode (e deve) ler o livro “Mães em Crise”, de Igor Zahir, lançado mês passado e disponível para download. Série baseada na obra deve estrear no youtube nos próximos meses (você pode ler o livro e ver o piloto aqui).

O jornalista reuniu depoimentos de mães, a maioria em situações extremas, em formato de carta. A maior parte delas, segundo o autor, são verdadeiras e foram escritas pelas próprias mães que as assinam. Outras, são baseadas em histórias reais recolhidas por entrevistas, que depois foram transformadas nas cartas.

Há, no livro, a mãe que comemora o aniversário do filho, apesar de ele ter matado o irmão a pauladas e estar internado em uma instituição de correção (“eu sei que o seu irmão te perdoou e agora é o seu anjo da guarda”).

Impossível não lembrar da mãe do agressor de Ana Hickmann, que disse essa semana, no velório de seu filho, que ele era apenas um fã da modelo e que não era ele quando fez aquilo. Muita gente disse que a tal senhora está cega. Mas, sério, alguém consegue imaginar o que uma mãe pode pensar e fazer em uma situação dessas? Como ela se sente?

Eu não sei. Mas o livro dá algumas pistas.

Há também a mãe adolescente, largada pelo namorado e pela família, que foge de casa e ganha a vida como garota de programa. A mãe que está com a filha a beira da morte.

E casos mais amenos, como a mãe que só consegue pensar em trabalho e nunca vai a uma festa na escola do filho e, por mais que se culpe, não consegue mudar. Ou então, a mãe cientista, que se sente culpada por achar que o mundo logo vai acabar.

O que não falta ali é dor e crise. E pergunto para as minhas amigas mães: quem não tem crise com a maternidade, com as escolhas? Quem não tem crise com tudo?

Todos temos. Absolutamente todos.

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Tomara que as mães aprendam que elas não precisam "ser alegres o tempo inteiro".

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