A atriz quer saber como a colunista lida com a exposição nos seus textos
95. Maria Ribeiro* - Confúcio disse: "Uma pessoa comum maravilha-se com coisas incomuns; um sábio maravilha-se com o corriqueiro". Até que ponto a sua "simplicidade" na escrita é uma busca? Em seus textos sinto como se conhecesse você e a sua família. Te incomoda a exposição da sua literatura?
96. Milly Lacombe* - Um de nossos instintos mais básicos e ancestrais é o de contar - e ouvir - uma história. É o que nossos pais faziam quando éramos pequenos, e é o que fazemos com filhos, netos e sobrinhos. As melhores histórias, as que captam nossa atenção da forma mais visceral, são as mais simples, as mais ingênuas. Acho que a realidade tem uma beleza e uma poesia que talvez não consigamos encontrar na ficção. A realidade pode ser mais arrebatadora do que a ficção. Conto a minha vida em forma de episódios que me marcaram, me moldaram. A exposição faz parte dessa busca pelo poder de conseguir contar uma boa história, de ver que captei a atenção do outro, que tirei dele uma emoção. É poderoso sentir isso, encontrar a felicidade em algumas brechas do dia. No meu caso, a exposição é fundamental porque uma de minhas intenções quando comecei a coluna era a de mostrar que homossexualidade não é doença, nem desvio, e que gays levam uma vida tão banal como qualquer outra pessoa. Ao revelar minhas experiências, meus amores, minhas dores, busco fazer isso - banalizar minha vida, me misturar ao meio e contar uma boa história.
(*) Para comemorar a Tpm#100 conversamos com 100 mulheres. Veja todas aqui