em 13 de dezembro de 2013
Descoberta no Orkut, já foi chamada de a nova diva do cinema brasileiro e virou queridinha da Chanel. Mas ela dispensa a coroa e aposta na simplicidade. E está feliz da vida assim
Laura marcou de encontrar a Tpm às 11 horas de uma quinta-feira de novembro. “Ela acorda tarde”, justifica a empresária da atriz. Coçando os olhos com os dedos limpos de esmalte e de cutículas roídas, ela não tenta disfarçar a cara de sono quando nos recebe em um apartamento de janelas enormes no bairro de Higienópolis, em São Paulo. “É que durmo muito, tá? Doze horas por noite, pelo menos.”
Laura avisa que está sozinha em casa – na verdade, só com as cachorras. Coloca Toinha no colo, uma buldogue francesa agitadíssima, enquanto Teodora, pitbull que a acompanha desde a adolescência, leva a coleira na boca. As duas são as “filhas” dela e do namorado, o apresentador Felipe Solari, com quem mora há quase dois anos.
Ela e Felipe, 11 anos mais velho, se conheceram em 2009, em um VMB no qual a atriz foi convidada para entregar um prêmio. O apresentador era VJ da MTV na época. Mas foi só em 2011 que começaram a sair. A Laura de hoje, aos 20, tem três assuntos preferidos na quinta-feira na qual a acompanhamos: “Fefê”, a mãe e as cachorras. “Fui tomado de assalto pelo olhar mais sincero que já conheci. Construímos nossa fortaleza conceitual, nosso jardim de sonhos, nossas cachorras com superpoderes e nomes de gente”, nos escreveu Felipe.
Do segurança do shopping ao motoqueiro que abre passagem no sinal, Laura cativa pelos traços de menina, pela postura de bailarina e, depois, pela voz rouca – naquele dia, mais rouca que o comum. Ao volante, pega o celular com capinha de videogame e solta: “Vou gravar nossa conversa pra ouvir minha voz. Ela não costuma ser rouca assim, tá?”. Aliás, ela é a motorista o tempo todo, de um carro enorme, com direito a teto solar e câmeras que ajudam a estacionar, comprado há menos de dois meses com o próprio dinheiro. Impressiona quando explica detalhes técnicos do veículo e manobra com destreza o banheirão automotivo. Dirige, escrever SMS e troca a playlist do iPod ao mesmo tempo.
No salão de beleza, ela pede pra tirar apenas as pontas. O corte é novo, simples. Antes da primeira tesourada, Francisco, empresário da atriz, liga no celular de Armando para conferir o que será feito. O cabeleireiro, frequentado por globais que vivem em São Paulo, acalma o empresário, tira fotos de Laura pronta e as envia por Whatsapp. “Laura pronta” quer dizer cabelos secos, batidos de leve – e só. Nada de maquiagem, acessórios, salto, decote. Veste regata branca larga sobre um top preto de ginástica e um short de moletom mescla. Nos pés, tênis de corrida. “Quando soube que vocês passariam o dia comigo, fiquei pensando se deveria inventar uma rotina mais animada e vestir roupas melhores. Mas nem no Projac eu me vestia melhor, sabe?”, conta, enquanto ri e se ruboriza ao mesmo tempo.
O trabalho no Projac aconteceu no primeiro semestre de 2013, quando gravou sua primeira novela, Saramandaia. Sobre fazer TV ou cinema, ela não tem dúvida: “Novela tem outro ritmo, é bom fazer, mas cinema é minha casa”. Antes de Saramandaia, atuou em E aí… Comeu?, em que fez uma ninfeta encantada pelo personagem de Bruno Mazzeo. Em 2013 filmou uma série de produções. A última, o longa Jonas e a baleia, da diretora Lô Politi, deve ser lançada em janeiro de 2014.
Depois do salão, Laura tinha uma gravação para o jornal do meio-dia da Globo. A pauta era gravar a atriz na exposição The Little Black Jacket, da marca francesa Chanel. A menina revelada ao mundo em 2009 no filmeÀ deriva, de Heitor Dhalia, foi chamada por Karl Lagerfeld, diretor criativo da marca e uma das figuras mais poderosas da moda, para ser fidèle da Chanel no Brasil, o que significa ser convidada a participar de todos os eventos da grife e a vestir suas roupas e seus acessórios quando bem entender.
Antes da gravação, dentro do carro (que não tem nenhum tipo de filme de proteção no vidro), ela troca a regata larga por um conjunto de tweed de casaquinho e saia plissada. Troca de roupa entre o volante e o banco de motorista, bem no meio do estacionamento do Parque Ibirapuera lotado. “Olha, tô passando maquiagem”, e aplica duas camadas de máscara de cílios em cada olho. De resto, nem olha mais no espelho, ou, melhor, retrovisor.
“Faxinar me ajuda a relaxar, cozinhar também. Sei fazer de tudo. Meu feijão é daqueles completos”
Na volta para casa, em meio ao trânsito, dá dicas de como facilitar tarefas domésticas. Aconselha um ácido pra limpar casa com cachorro e água sanitária pra usar no banheiro, “nos cantinhos onde a sujeira acumula”. “Faxinar me ajuda a relaxar, cozinhar também. Sei fazer de tudo.” Tudo, tudo? “Tudo”, responde enquanto fura o segundo sinal seguido. A especialidade dela é feijão, “daqueles completos, com mil coisas dentro. Coloco tomate, calabresa, legumes e como puro. Fica um superensopado”. Quando almoçamos no salão de beleza, mal ouve quando oferecem os sanduíches do cardápio. “Pode ser qualquer um.” E um suco de acerola e laranja, Laurinha? “Sim, mas sem gelo, que minha voz já tá de travesti.” A atriz não bebe, não fuma, nunca usou droga alguma, “porque não gosto mesmo”. O único remédio que toma é por conta de uma tendência epilética que a acompanha desde a infância. Costuma se divertir em programas de família e ama quando visita a avó materna aos domingos. Vez ou outra sai com a mãe, “em bares de gente velha”.
Do Orkut a Cannes
A intenção de Anna Luiza Almeida e Francisco Aciolly, responsáveis pelo casting de À deriva e hoje empresários da moça, era encontrar na internet uma garota “caucasiana, europeizada e de traços delicados”. Depois de uma pesquisa em comunidades de escolas particulares bilíngues, chegaram em Laura, que estudava na escola Waldorf, na Vila Olímpia, bairro de classe média alta da capital paulista. Foram quatro meses entre o primeiro contato e os testes para o filme, no qual Laura fez sua estreia contracenando com Débora Bloch e o francês Vincent Cassel. Pouco tempo depois, ela pisava no tapete vermelho do Festival de Cannes e estampava capas de revistas francesas como a Jalouse, em que foi apontada como a nova diva do cinema brasileiro.
A cineasta Vera Egito diz que a câmera ama Laura. A atriz está no elenco de Rua Maria Antônia – A incrível batalha dos estudantes, com previsão de estreia para o primeiro semestre de 2014. “Se ela está em quadro você simplesmente não consegue parar de olhar. E isso é uma característica preciosa pra um ator de cinema. Não tem a ver só com ser bonita. Laura nasceu pra tela grande, atua de uma maneira intuitiva”, derrete-se Vera.
“Laura nasceu pra tela grande, atua de uma maneira intuitiva” Vera Egito, cineasta
Thiago Pethit, de quem a paulistana foi musa no videoclipe Pas de Deux, diz que Laura “parece feita de uma matéria sobre-humana”. “Saí das filmagens apaixonado, e ganhei duas amigas: ela e a mãe. Há alguma coisa naquela genética.” O cantor fala da decoradora Michele Franca, mãe e melhor amiga de Laura. Quem vê as duas juntas jura que são irmãs, “e quando estamos grudadas, de mãos dadas, acham que somos um casal”, ri Laura, que nasceu quando a mãe tinha apenas 15 anos.
A leveza com que ela lida com sua beleza nada tem a ver com falta de autoestima. No questionário da avaliação médica da academia, de 0 a 10, dá 10 para o quanto se gosta esteticamente. Sabe o quanto é bonita, e que “ainda não é hora pra recorrer a maquiagem”. Para os olhares na rua, sejam na calçada ou no carro da faixa ao lado, ela sorri de canto de boca e abaixa olhar. É do tipo que dá bom-dia até pra passarinho. Sorte dela é que os passarinhos não resistem e sempre respondem com outro bom-dia.
Assistente de foto Carlos Ximenes Beleza lLau Neves (capa mgt) Produção de moda Patricia Grossi Assistente de produção de moda Luiz Felipe Bonassoli
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