A jornalista Jéssica Balbino criou o projeto Margens para mapear e dar visibilidade às mulheres na literatura periférica. Ela indica cinco escritoras que se destacam no Brasil
No dia 14 de março de 1914 nasceu Carolina Maria de Jesus, escritora que expôs de maneira brutal e poética a experiência de ser mulher negra e de periferia. A mineira viveu a maior parte da vida em São Paulo trabalhando como catadora de recicláveis, atividade que exercia para poder criar, sozinha, os três filhos. Ela publicou seu primeiro livro, Quarto de despejo: diário de uma favelada, depois de ser descoberta por um jornalista na década de 50. A publicação chamou a atenção por sua narrativa visceral, sofisticada e extremamente crítica em relação às desigualdades no Brasil.
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“Uma das minhas teses é de que ela era socióloga da prática, ainda mais porque teve educação escolar por apenas dois anos”, diz Sirlene Barbosa, 37, roteirista da graphic novel Carolina (Veneta, 2016) — a obra foi indicada para o Prêmio Jabuti, que, desde 2017, premia quadrinhos. A HQ, parceria com o companheiro e desenhista João Pinheiro, narra a vida da escritora que Sirlene considera feminista, mesmo que ela não use esse termo: “Tem momentos em Quarto de despejo que ela relata como as mulheres ficam horrorizadas por ela não ser casada. E ela escreve: ‘enquanto vocês apanham dos homens eu ouço minhas valsas vienenses’”.
Carolina abriu caminhos e segue inspirando mulheres na escrita. Hoje, a cena da literatura feminina e periférica é crescente, como observa a jornalista Jéssica Balbino, 32, criadora do projeto Margens, que tem como objetivo mapear e dar visibilidade às escritoras. “É uma resposta eficaz contra as desculpas dadas por curadores de festivais, prêmios, saraus e até mesmo slams, que não convidam as mulheres porque não sabem que existem, que acham a literatura ruim”, explica a jornalista.
Convidamos Jéssica Balbino para fazer uma lista de escritoras da periferia que, assim como Carolina Maria de Jesus, mostram a riqueza da literatura feminina no Brasil.
Mel Duarte
Há mais de uma década na cena dos saraus e slams brasileiros, Mel é um dos principais nomes da literatura marginal e periférica brasileira, representando a poesia nacional inclusive em outros países. Autora dos livros Fragmentos dispersos e Negra nua crua, foi campeã internacional de poesia falada no Rio Poetry Slam, em 2016. É uma das integrantes do Slam das Minas SP e trabalha levando sua poesia a locais como escolas, presídios e unidades da Fundação Casa. Em 2017, foi a brasileira convidada a representar o país no Festival Literário de Angola, no continente africano. Em 2018, terá sua obra traduzida para o espanhol e publicada no exterior.
Vai lá: www.melduartepoesia.com.br
Elizandra Souza
Uma das principais poetas da geração contemporânea, Elizandra publica em antologias desde 2014. É autora do livro Águas da Cabaça (2012) e dividiu a autoria de Punga (2007) com Akins Kintê. É fundadora do coletivo Mjiba e publicou, em parceria com a autora Carmen Faustino, o livro Pretextos de Mulheres Negras, que reúne 22 autoras em um processo editorial todo feito por mulheres negras. Tanto na poesia como na militância, ela têm a força de empoderar por meio das palavras.
Vai lá: www.fb.com/elizandrasouza
Ryane Leão
Uma das vozes mais incríveis e completas desta nova geração, Ryane é uma cuiabana que vive em São Paulo e divide-se entre ensinar inglês às mulheres negras, colar lambes com frases autorais nas ruas da capital paulista com o projeto “onde jazz meu coração” e promover o recém-lançado livro Tudo nela brilha e queima (2017). É frequentadora de saraus e slams e dialoga sobre o universo lésbico em suas poesias.
Vai lá: https://www.facebook.com/ondejazzmeucoracao
Lâmia Brito
Cria do rap e dos saraus, Lâmia é autora do livro Todas as funções de uma cicatriz (2017). Lâmia transformou o sofrimento em arte e usa a literatura para falar sobre depressão, dores e amores. Espalha pixos por São Paulo com trechos de poesia e acredita que escrever sobre as próprias cicatrizes foi o que a salvou.
Vai lá: www.lamiabrito.com.br
Sheyla Smanioto
Vencedora dos prêmios Sesc, Jabuti e Biblioteca Nacional de Literatura com o romance Desesterro, Sheyla é literatura obrigatória para quem quer conhecer mais sobre as mulheres periféricas que escrevem no Brasil. De Diadema (SP), ela conta sobre a fome em um romance cujas protagonistas são mulheres e resgata nossa mais profunda relação com o corpo feminino por meio das palavras. Usa a astrologia e a literatura como cura. Prepara o lançamento do seu segundo romance Meu corpo ainda quente para 2018.
Vai lá: https://sheylasm.com/
Créditos
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João Pinheiro/divulgação