Hipsterizaram a faxina!

por Nina Lemos
Tpm #161

Não basta ser faxineiro, tem que ser “ninja com um aspirador na mão” e trabalhar para uma empresa que tem como missão limpar casas com amor

Você abre o site da agência de faxinas, mas parece que está diante de um casting de agência de modelos descolados. Eles usam cabelos incríveis e têm tatuagens no melhor estilo garçom do Ritz. Bem-vindos ao mundo da faxina hipster.

As empresas que oferecem esse tipo de serviço são tendência na Europa e os faxineiros ganham nomes como “ninja da limpeza” e “herói da faxina”, gente que cuida da sua casa com amor (claro!). Sim, gourmetizaram a faxina.

A Book a Tiger, sediada em Berlim e Londres, diz em seu site: “Graças à nossa plataforma on-line, limpar a casa agora é acessível para todo mundo”. Jura que antes não era? A Sunshine Cleaning Service garante que seus colaboradores são “ninjas com o aspirador”. “Já contratei uma menina da Book a Tiger”, diz Laís Normanté, moradora de Berlim. “Era uma vegana escandinava que tinha uma banda indie.”

Mas o que interessa: ser um faxineiro hipster dá dinheiro. Bastante. Esses profissionais ganham entre 15 e 20 euros por hora (o salário-mínimo na Alemanha é de 8,50 euro a hora). Fica a sugestão para os hipsters do Brasil: faxina rehab. Limpem um chão. Faz bem.

 

DIÁRIO DE UM FAXINEIRO
“Quando contei para a minha mãe que tinha começado a trabalhar como diarista, ela só respondeu ‘meu Deus!’”

Júnior Milério, 30 anos, é jornalista, já trabalhou para a Folha de S.Paulo e para a revista Piauí. Hoje, vive em Dublin e há 6 meses trabalha como faxineiro. Ganha uma boa grana e não tem chefe nem patrão (tem clientes). Recentemente, a experiência rendeu o texto “O diário de um faxineiro na Europa”. No @cleanersdiary, no Medium, Júnior promete contar detalhes de como é a vida de um diarista na Irlanda.

Como funciona a empresa para a qual você trabalha? É um tipo de agência, mas o trabalho é autônomo. A gente tem um perfil no site, os clientes fazem uma requisição de faxina e a empresa envia uma mensagem para vários faxineiros. Quem responder primeiro leva o trampo.

Qual a maior dificuldade de trabalhar com faxina? Com certeza é lidar com preconceito. Eu mesmo quando comecei pensei ‘nossa, o que estou fazendo da minha vida?’. Somos condicionados a acreditar que a limpeza é um trabalho inferior, pra quem não tem habilidades para exercer outra função.

Por que você criou o blog? Para extravasar um momento de angústia. Mas a ideia é escrever algumas percepções do dia a dia como diarista. Por exemplo, fico intrigado que em todas as casas existe um quarto sobrando. E nenhuma tem tanque. Não dá pra lavar um pano!

 

Vá lá: https://medium.com/@cleanersdiary

Créditos

Ilustração: Tereza Bettinardi

fechar