Face é ficção
Tudo pode melhorar com o filtro certo
O fotógrafo norte-americano Danny Evans modifica digitalmente as imagens e deixa os famosos, como Jennifer Aniston, com cara de gente comum
em 13 de dezembro de 2012
Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus amigos virtuais sempre têm sido campeões em tudo.
Pelo menos ali no Facebook e no Instagram.
La vie en rose é pouco. Tudo pode melhorar com o filtro certo. E tome X-Pro II, Amaro, Earlybird, Rise, Hudson, Sierra, Lo-Fi… Aí sim. O PF vira uma explosão de sabores, gato vira-lata ganha pedigree, um sorriso amarelo traz de volta a pessoa amada em três dias, a festinha dá uma animada, aquele moleque fica a cara do bebê Johnson’s e qualquer domingo no parque é promovido a uma Coney Island da mente.
E se alguém inventasse uma rede antissocial?
Isso, um cantinho da internet em que só valeria postar a vida como ela é. Nada a ver com reality show. Reality show não existe. Ou é realidade ou é show: em 99% do tempo, a gente faz tudo sempre igual. Difícil é curtir isso. Clica logo esse botão, sacode a poeira e dá a volta por cima. E as hashtags dessa distopia digital? Em vez de #fériasincríveis, um sincero #chuvanapraia. Sai #bomdia e entra #paraquem?, no lugar de #lookdodia aparece a #loucadodia.
O status traria a opção “Não tenho certeza”. Trabalho e educação? “Chato” e “ruim”. Residência? “Tô procurando, o aluguel da última ficou caro.” Idiomas? “Me viro no português e fiz quatro meses de Aliança em 1989.” E ninguém poderia escrever que seu livro de cabeceira é russo, seu filme favorito é tailandês ou que seu defeito é ser perfeccionista.
Sim, demoraria bastante para chegar a 1 bilhão de usuários.
Mas, tudo bem, ninguém precisa transformar sua timeline num mural das lamentações. Só não faria mal dar um check-in no mundo real de vez em quando. Nem que seja para lembrar que o Face é ficção, e que comparar seu dia com o post alheio é covardia. O inferno não são os outros. O inferno é acreditar que os outros estão se divertindo mais do que você.
Como lembra a reportagem “Vida perfeita só existe no Facebook”, citando o inesperado guru 2.0 e filósofo iluminista Montesquieu: “Se quiséssemos apenas ser felizes, seria fácil. Mas queremos ser mais felizes do que os outros. O que quase sempre é difícil, já que pensamos que eles são mais felizes do que realmente são”.
Aproveita as festas de final de ano para cantar com o Pulp: I eu want to quero live viver like como common people uma pessoa comum.
Fernando Luna, diretor editorial.
Última atualização Pela segunda vez, a Tpm ganha o Prêmio Esso de Jornalismo, o mais importante da mídia brasileira. Em 11 anos, foram sete indicações, um recorde entre as publicações femininas. Agora, a reportagem “Lebmra quem tmoou toads?!” levou o troféu na categoria Criação Gráfica em Revista – e é claro que a gente, orgulhosamente, vai postar isso na nossa fan page.
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