A gente ainda pode discordar no Brasil. A nossa democracia permite o embate, mas o orgânico, sem manipulações
Redes sociais se tornaram, em uma fatia considerável, uma terra de ninguém, onde não faltam haters para proferir discursos de ódio e intolerância, com uma porção de perfis falsos para compartilhar conteúdos igualmente mentirosos. Aliás, o fenômeno fake news já é tão presente na temática da política brasileira que só falta virar tema de alguma comissão no Congresso.
Desde a campanha nos EUA, marcada pela vitória nas urnas do midiático Donald Trump, muitos países vêm trabalhando para mudar a legislação e tentar conter as tais notícias falsas. E, embora não estejamos falando de um problema tupiniquim, precisamos admitir: o Brasil está ficando bom também nesse negócio.
Até mesmo quando a intenção é informar, muita gente derrapa na forma e no conteúdo do que se quer comunicar à população. Fato é que nos últimos tempos, o que temos assistido no ciberespaço caminha na contramão de muita coisa que acredito – e não falo só como representante pública, mas também como comunicadora.
Muita gente não sabe, mas antes de ser tetra e me tornar política, trabalhei com comunicação. Aos 26, já era formada em publicidade e psicologia, um privilégio que, infelizmente, ainda é para poucos em nosso país. Essa bagagem acadêmica é o que me respalda no dia a dia para desempenhar com responsabilidade o meu papel como representante pública.
Se um conteúdo não cultiva algo bom, não informa de maneira construtiva e não é pautado no respeito aos direitos humanos, não vale ser propagado. Na dúvida, não compartilhe.
Mandatos devem ser claros, democráticos e construtivos. Não imagino caminho mais correto que esse, mesmo sabendo que está longe de ser o mais simples. No feed nosso de cada dia sempre surgem uns inimigos – e que não te desejarão uma vida longa. Mas tudo bem, a gente ainda pode discordar no Brasil. A nossa democracia permite o embate. Mas o embate orgânico, com respeito às diferenças e sem manipulações.
A opinião pública que nós, representantes do povo queremos atingir, não pode ser movimentada por um exército de sockpuppets (identidades falsas usadas para fins fraudulentos), mas sim por cidadãos, que buscam participar da democracia com diferentes pontos de vista e, fundamentalmente, com tolerância. Se essa dinâmica não é respeitada por quem mais tem poder de voz, então temos um ruído na comunicação. E um ruído que pode trazer danos graves.
Neste momento tem muita gente conectada trabalhando de forma correta para garantir mais transparência ao trabalho parlamentar, aproximando o Poder Público do público de fato. Mas o contrário, infelizmente, não é exceção.
O que vale sempre é exercitar o senso crítico, tanto de quem emite a mensagem quanto de quem a recebe. Sem isso, estamos sujeitos a cair na vala daqueles que compartilham conteúdos que não agregam. Pior ainda, daqueles que alimentam mentiras que podem ser utilizadas para diversos fins — alguns políticos e outros para simplesmente instalar o medo, a intolerância e o preconceito.
Quando se dá exemplos, é importante saber que há pessoas que passarão a pensar exatamente da sua forma. E há pessoas que de tão expostas a certa fala, passarão a repeti-la por conta própria.
Na internet, assim como na política, tudo tem um bônus e um ônus. A nós, políticos, sempre caberá algumas reflexões do tipo “o que queremos engajar e quem esperamos que nos siga”.
Afinal, a rede tá aí, para criar episódios para o bem e para o mal. O crivo, no entanto, ainda é por nossa conta e risco.
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