Projeto MAMU faz um mapa interativo de coletivos e grupos feministas por todo o Brasil
No Brasil as mulheres são milhões. Milhões de vozes, ideias e aspirações. Milhões de planos de futuro e de vontade de mudar. Aos poucos, grupos foram sendo formados com desejo de se movimentar, de ser parte da mudança que cada uma queria tanto. A cada mês novos coletivos femininos são criados para buscar mais espaço, mais justiça e união para as mulheres. Mas quantos são? Onde estão e o que faz cada um deses grupos? Foi com essa inquietação que a mineira Maria Carolina Machado teve a ideia de conectar essas vozes e assim, ela criou um mapa de coletivos de mulheres, o MAMU.
O projeto nada mais é do que um grande mapeamento dos coletivos e grupos brasileiros que tem a mulher como tema. Um mapa do Brasil interativo e aberto para cadastro. O projeto está dando seus primeiros passos e depende que as pessoas se envolvam. Maria Carolina contou para TPM como surgiu essa ideia, o que espera dela e qual a importância de projetos como esse para viabilizar um cenário novo para as mulheres.
O projeto é bem recente. Você poderia falar um pouco sobre quando e como ele surgiu?
O MAMU foi lançado com o suporte de site, página em rede social e divulgação, há aproximadamente 2 semanas. Porém, o projeto tem sido pensado e maturado há 1 ano. Esse também é praticamente o mesmo período em que comecei a fazer parte de um coletivo de mulheres (o Casa de Lua, em SP). E é desse fazer parte, do pertencimento a um grupo de mulheres que vem a maior inspiração para a criação do mapa. Em todas as nossas conversas sobre os papéis que desempenhamos, como somos representadas, como nos valorizamos, as nossas demandas e reivindicações, eu me questionava: “OK, mas quem é esse 'nós'? De quem são todas essas demandas? Onde realmente estamos?”. Na época, tentei buscar na internet por grupos em São Paulo e encontrei poucas informações estruturadas sobre coletivos. Ao ler uma reportagem ou outra, percebia que poucos, ou os mesmos grupos eram citados. Fiquei curiosa em saber se era frequente o surgimento de grupos, como as mulheres se organizavam e divulgavam seus projetos e ações. Em alguns meses de pesquisa, fiquei impressionada com o número de mulheres se articulando, criando coletivos, fazendo projetos, e principalmente, divulgando e compartilhando tudo isso.
Como surgiu a ideia do mapa?
Encontrei vários grupos com sede, endereço fixo e muitos mais que se formam virtualmente. Só faltava algo que organizasse tudo isso. Estava faltando uma forma mais concisa de nos acharmos. Como estou rodeada por pessoas que amam mapas e trabalham com projetos de mapeamento, seja de cultura, arte ou recursos educacionais, pensei que um mapa seria um caminho. Com muita ajuda e apoio, comecei a pesquisar plataformas e como o mapa seria arquitetado. Registramos domínio e aparamos o necessário. Confesso que nunca fiz um site, nunca programei nada… tem sido um desafio e tanto! Enquanto isso, comecei a fazer uma lista dos grupos. Tudo muito devagar e cuidadoso. Porém, eu percebi que não poderia esperar a completude para lançá-lo — ele nunca estará completo. A ideia é que o mapa seja dinâmico, aberto e vivo, pronto para incluir cada coletivo formado e encontrado. Não há pré-requisitos: um tema específico, anos de experiência, atuação e reconhecimento. O foco é a mulher e tudo que esteja relacionado à ela. É incentivada também a indicação de grupos em todos os estados brasileiros. Dessa forma, o MAMU vai crescendo, tomando forma, propondo a participação e a colaboração; sempre aberto a sugestões e parcerias.
O MAMU será exclusivamente voltado para o mapeamento de coletivos ou você pretende ampliar essa função, criando vínculos e parcerias com esses grupos?
Quando penso no mapa como recurso, desejo que ele proporcione algo que vá além da visualização de pontos. Portanto, certamente um dos objetivos do MAMU é que esses grupos, ao se reconhecerem espacialmente e notarem a sua diversidade, criem conexões e relações entre si. Por enquanto, o MAMU está mapeando os coletivos, mas em breve serão incluídos pontos indicando projetos e ações, e será criada uma estrutura com campanhas, sensibilizações e encontros que fomentem discussões, redes de troca de serviços, escambos e desenvolvimento de projetos. O indicativo que isso pode dar muito certo são os encontros de redes de mulheres, rodas de conversa entre vários grupos, a mobilização, por exemplo, para passeatas e campanhas que já vem acontecendo. Imagine só: um grupo que trata sobre questões da saúde da mulher no interior de São Paulo, ao navegar no mapa , visualiza um outro em João Pessoa, e começa aí um diálogo, trocas de informações, algum intercâmbio ou a escrita de um projeto maior. Veja quantas possibilidades um encontro desse pode gerar!
Qual a importância de um projeto como esse para o fortalecimento da causa feminista?
Considero que não existe uma causa, mas muitas causas feministas. Entretanto, essa abrangência e diversidade reflete e potencializa a força que temos. Embora os grupos mapeados no MAMU estejam definidos por áreas de atuação (maternidade, arte, cultura, saúde, amamentação, parto humanizado, estudos de gênero, direitos da mulher, empreendedorismo, identidade, educação, beleza, e muitos outros), considero que todos eles são feministas, pelo simples e importante fato de promoverem a visibilidade de mulheres, incentivarem o seu protagonismo, o respeito às suas dinâmicas e decisões. E um projeto como esse, ao contemplar e acolher esses grupos, valoriza a especificidade de cada um deles, os coloca visualmente em contato, e promove justamente o engajamento constante dessa rede, do feminismo construído diariamente por cada uma de nós.
Além do MAMU, você também participa da organização feminista “Casa de Lua”, que possui um calendário repleto de atividades para agregar mulheres. Quais são suas perspectivas e próximos objetivos com esses dois projetos?
A Casa de Lua é a inspiração de todo esse projeto. As perguntas sobre o que é ser mulher hoje, como respeitar os nossos ciclos e ritmos e onde estamos representadas guiaram a formação da Casa e direcionam a nossa atuação. São pontos que também norteiam a criação do mapa. Assim como o MAMU, temos projetos muito significativos, como o #KDmulheres, que discute a visibilidade das mulheres no mundo das artes; os ensaios fotográficos e discussões de valorização do corpo, promovidos pela agência Iara; os círculos constantes de conversas, como o Círculo de mães feministas e o Círculo de Mulheres Negras; os grupos de leituras e estudos; atividades corporais… A perspectiva é que possamos acolher e representar cada vez mais mulheres. Buscamos sustentabilidade financeira, através de apoios e investimentos. Esse é um dos nossos maiores desafios e creio que seja de vários grupos também. Portanto, queremos que hajam incentivos para a manutenção desses espaços e projetos. Finalmente, que o conhecimento gerado inspire encontros e impacte nas nossas vidas e nas nossas relações diárias. E, olha, como é avassalador estarmos conectadas em redes, círculos e rodas! Quero ver essa ciranda girar sem fim!
VAI LÁ: http://www.mamu.net.br/