De volta para o futuro

Diana Assennato
Natasha Madov

por Diana Assennato
Natasha Madov

É sempre bom medir a velocidade dos 
avanços tecnológicos e diferenciar revolução de update de sistema

Em 1986, no ano do cometa Halley, telefones ficavam presos às paredes e as ligações eram discadas, a maior parte das TVs não tinha controle remoto, videoconferência era coisa dos Jetsons e a tecnologia GPS era ficção científica de gibi futurista. Uma vida pré-internet: em casa, no trabalho, na vida social. Eis o que o jornal The New York Times pensava sobre laptops em 1985: “De alguma forma, a indústria de microcomputadores supôs que todos gostariam de ter um teclado acoplado como extensão de seus dedos. Não é bem assim”. Olhe para trás e imagine viver dessa forma. Tem cara de pré-história, não tem? Mas isso faz apenas 30 anos.

Parece banal esse papo de que “a tecnologia está evoluindo cada vez mais rápido e a nossa geração está vivendo a ansiedade desse crescimento exponencial”, afinal já sabemos disso e somos parte desse processo. Mas será que percebemos isso? O exercício de olhar para o passado e entender o tipo de tecnologia que estava à nossa disposição (e o uso que fizemos dela) há dez, 20, 30 anos é saudável e necessário. É assim que se cria uma tecnocultura responsável, inclusiva e adaptável: olhando para trás e entendendo que a inovação é o que as pessoas fazem dela, e não o que o mercado espera que aconteça.

A internet, por exemplo, não é mais um lugar aonde você vai, uma ferramenta que você usa, um espaço digital que você frequenta. Não é mais um mundo estranho de acadêmicos e pesquisadores com suas peculiaridades e vocabulário próprio. A internet é um tecido social, uma forma de existir.

É prudente colocar as coisas em perspectiva quando falamos de inovação tecnológica porque essa linha do tempo nos ajuda a entender o ritmo, o mercado, o uso e os impactos culturais que uma tecnologia teve em sua época. Além disso: ao enxergar o passado temos uma compreensão contextual sobre o que a indústria projeta para o futuro. Nem todo aplicativo, tecnologia, plataforma ou modelo de negócio atrelado a uma tecnologia é disruptivo simplesmente por propor uma nova solução. A “revolução” que o mercado ama vender não acontece a cada update de sistema, e sim através da remediação de meios que, muitas vezes, sempre existiram. Quem revoluciona o seu uso somos nós, através da imprevisibilidade da nossa adaptação.

Hoje, a cultura web é a nossa cultura, os nossos telefones são portais para o mundo e temos mais conhecimento disponível gratuitamente do que nunca. Nos próximos anos o mercado de trabalho receberá uma geração inteira de jovens acostumados a um nível constante de conectividade. São nativos digitais de uma cultura atraente e perigosa de adequação e remediação imediatas. Uma cultura imprevisível de conexões e atritos inesperados.

Mal podemos esperar as inovações que nos aguardam na próxima década.

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