Nós, os panicados, às vezes corremos na vida sem motivo aparente. Pegar um metrô pode ser uma tarefa complexa. Dizem que somos 2% da população mundial. Devemos ser mais, nós, os vida loka que não têm dom pra vítima!
“Estou com um problema, meu celular está descarregado, como vou pegar o metrô?" Faço essa pergunta com voz trêmula de apavorada. Agora, sério, o que impediria uma pessoa de pegar um metrô se o celular esta descarregado? O que uma coisa tem a ver com a outra?
Eu tenho no bolso as moedas para comprar o bilhete (2,70); o caminho eu sei de cor e leva exatos 15 minutos. Ele, o metrô, demora no maximo 5 minitos para chegar até a estação. Não preciso telefonar para ninguém. O celular, na vida normal, não faria nenhuma falta. Isso se a vida fosse normal.
Isso se eu não fosse fóbica, portadora de síndrome do pânico e, desse jeito, VIDA LOKA.
Nós, que temos pânico, somos totalmente VL. Assim como na música dos Racionais, nossa vida é desafio. Pegar um metrô sem celular pode virar uma tarefa mega difícil. Mais do que fazer uma reportagem complicada, uma viagem longa.
Não somos blogueiras de moda e nem portamos it bags, mas, no nosso dia-a-dia, precisamos ter coisas específicas na bolsa, senão, piramos. E pirar significa ter um ataque de pânico, ou seja, ficar parada na rua tremendo, coração batendo, suando, achando que vai morrer. Ou que vai ficar louca para sempre. Assim, do nada, em uma terça feira qualquer.
Nós, os panicados, temos essa dependência louca por alguns objetos. No meu caso, preciso de um telefone carregado e de um vidrinho de rivotril. Isso não significa, de forma alguma, que eu vá usá-los, mas que eu sei que, se precisar, posso usar. O saber que pode faz a maior diferença. Se esqueci o vidrinho ou o telefone, posso ter um ataque de pânico só porque esqueci e, ao descobrir isso, vou me apavorar. E quando eu me apavoro, bem, fodeu.
Uma amiga tem dependência de óculos escuros. Seja dia ou seja sol. Ela precisa dos óculos na bolsa. E não, ela nem é editora de moda. Um dia, ela desceu do taxi no Rio, ali no Saara, o lugar perfeito para ter um ataque, mais calmo da vida. Até que botou a mão na bolsa. Tinha esquecido os óculos. Pronto. Ela saiu em disparada e entrou em uma ótica. Tentou explicar para a vendendora que precisava dos óculos por alguns minutos. “Síndrome do pânico, desculpa, me empresta, moça, ajuda”, balbuciou. A moça não entendeu e foi grossa: “só comprando”. Minha amiga comprou o óculos que não precisava e seguiu calmamente com suas compras.
“Eu acho que bicicleta evita ataque de pânico”, digo para a mesma amiga, companheira de infortúnio. “Claro, porque de bicicleta a gente pode correr e ir embora mais rápido”, ela diz.
Sim, porque uma das cenas ridiculas protagonizadas por nós, panicadas, é a corridinha na rua. Começamos a ter um ataque. Estamos perto de casa. Sabemos que quando chegar em casa vai passar. O que fazemos? Corremos! É ou não uma vida loka?
Preciso informar que peguei o metrô sem o celular e não precisei apelar nem para o vidro de Rivotril guardado na bolsa. No caminho, fui ocupando a mente escrevendo esse texto. Poderia ter sido mais fácil se eu fosse mais precavida e trouxesse comigo outras coisas que ajudam muito: fone de ouvido: um papel e uma caneta e um livro.
Mas deu tudo certo. Cheguei em casa. Ri. Estava salva.
Esse não é um texto para que você sinta pena de nós, as panicadas. As pesquisas dizem que somos 2% da poupulação mundial e 6% no caso das mulheres. Eu acho que é muuuuito mais, ou vai ver eu que sou cercada por amigos vida loka.
Esse é um texto para que você ria junto com a gente. Sing along with panic people, parafraseando o Jarvis Cocker que, sim, também tem síndrome de pânico.
Como vida loka, não, eu não tenho dom pra vítima! Procurando bem, todo mundo tem problema. Agora, se alguém ainda tiver preconceito contra quem é panicada, ah, mano, sério. Eu deleto da vida. Por que, ne, gente? A vida é louca, meu irmão.
Ah, e por favor, não diga para uma pessoa com síndrome de pânico que ela pode resolver tudo relaxando ou com força de vontade. Não é assim. Só tome remédio receitado por médico. Ah, e se começar a ter síndrome de pânico, não se ache um lixo. E bem vinda à vida loka!
