Sabe aquele batomzão vermelho que a gente passa quando não quer maquiar os olhos? Pois bem, sempre recorrí ao look Marisa Monte quando acordava de bom humor ou então quando acordava de mau humor e queria dar um up no visual (sim, roubei essa expressão da minha mãe).
Munida do batom vermelho eu caminhava pela Avenida Paulista, pela Rua Augusta ou por Itapevi sem chamar a atenção – confiante por dentro mas camuflada entre todas as demais. Este sentimento de anonimato, no entanto, nunca foi experimentado por mim aqui em Buenos Aires.
É que se engana quem pensa que as argentinas se maquiam muito. Esse imaginário que nós temos sobre elas não está refletido nas ruas – a não se pelas senhoras peruas e pelas dançarinas de tango da Calle Florida, claro. No dia-a-dia elas até se jogam numa base e em um delineador.
Mas qualquer coisa mais “berrante”, como um rímel muito acentuado ou um batom colorido, chama a atenção. Confesso que eu passei um bom tempo sem usar o vermelhão para trabalhar, por exemplo. No meu último trabalho os seguranças, os cinegrafistas e as chefes sempre faziam algum tipo de comentário.
“Te pusiste pintura?”
“Dónde vas a la noche que estás así tan pintadita?”
“Qué rojito te pusiste en los labios, eh?”
“Esa! Indio que se pinta quiere guerra!”
“Mirá el rojo carmesí que se clavó Ana”
Quer dizer, não tinha como passar inadvertidamente por um corredor sem escutar várias meia-dúzias de comentários. E não era só com o vermelho, não. Porque depois veio o pink que era o novo vermelho e logo o laranja, que era o novo pink. Não adianta: toda cor é motivo de comentário.
Daí que essa semana eu passei o rouge bombadão e fui lá fazer o que eu faço todo dia sempre igual. Peguei o metrô, caminhei algumas quadras até chegar no trabalho e adentrei ao mesmo. No metrô: olhares. Na rua: olhares PLUS um cara nojento que se aproximou e disse algo. No trabalho: comentários como os acima mencionados.
Conclusão: a sociedade argentina ainda não está preparada para o batom vermelho. E embora o da foto abaixo seja o laranjinha, não vou deixar de usar o vermelhim por causa disso, né?