por Luiz Guedes
Trip #188

Rebeldia, liberdade e juventude. Mas não é rock’n’roll. Estamos falando dos Hot Rods

Do clássico brega “Fuscão preto” à infame “Brasília amarela”, do calhambeque de Roberto Carlos ao Corcel 73 de Raul Seixas, carros e música sempre andaram juntos. Mas poucas vezes esses laços se estreitaram tanto quanto o rock’n’roll e os Hot Rods. Os movimentos nasceram sob a tutela da juventude norte-americana pós-Segunda Guerra, pregando rebeldia e liberdade de expressão.

A dupla roqueiros e rodder’s foi parar em filmes como Hot Rod Gang (1958, com Gene Vincent), The Lively Set (1964, com trilha de Bobby Darin, do hit “Splish, Splash”) e American Graffiti (de George Lucas, 1973, com Harrison Ford).

Se grandes bandas de rock surgiram no fundo de uma garagem antiga, os provocativos Hot Rods também vieram do, digamos, submundo dos automóveis. Mais precisamente nos ferros-velhos da década de 50. Sem dinheiro para comprar um exemplar zero-quilômetro, jovens da época invadiam os vastos desmanches alimentados pela retomada econômica na terra de Obama. Em busca de sucatas baratas, o que mais encontravam eram carcaças do Ford Modelo T, veículo de sucesso nas décadas anteriores, mas que nos anos 50 se encontrava abundante nos ferros-velhos e até abandonado pelas ruas.

Biela quente
Montadas em quintais, essas velhas carrocerias, a maioria fabricada até a década de 30, ganhavam mecânica moderna, sobretudo poderosos motores V8. Leves, esses conjuntos às vezes aceleravam mais do que um carro moderno. Assim nasceu a receita – e a cultura – Hot Rod, que, numa tradução livre, significa “biela quente”.

“Hoje, a prática está mais para hobby, inclusive no Brasil, onde a mania chegou por volta da década de 60”, atesta o industrial Wagner Aliprandi, 46 anos, dono do belo exemplar que ilustra esta página. “Tenho este carro há mais de dez anos e só uso nos fins de semana. Mas não consigo lembrar de uma única saída em que não fui parado, fotografado ou filmado por curiosos.”

Também pudera. Além do chamativo amarelo da carroceria de fibra (baseada no Ford Modelo T de 1923), o Hot de Wagner é equipado com um potente e escandaloso motor V8 de quase 200 cv, totalmente desprovido de qualquer cobertura.

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