Filmes que ajudam a pensar o Brasil no É Tudo Verdade 2021
Vencedor da última edição do festival, Diógenes Muniz indica o que assistir na maior mostra de documentários da América Latina
Começa em 8 de abril a 26ª edição do Festival Internacional É Tudo Verdade, a principal mostra de documentários da América Latina. Essa será a segunda vez que o evento acontecerá de maneira digital, imposição da pandemia de covid-19. O público poderá assistir a 69 filmes de 23 países. As sessões são gratuitas e acontecem até 18 de abril. A Trip convidou o documentarista Diógenes Muniz, vencedor da última edição do É Tudo Verdade com o longa "Libelu - Abaixo a Ditadura", para fazer uma curadoria entre as dezenas de títulos selecionados. Se liga no que ele contou pra gente:
ALVORADA (Anna Muylaert / Lô Politi / 90 min)
O documentário acompanha de dentro do Palácio da Alvorada os meses finais do processo que culminou na deposição da ex-presidente Dilma Rousseff. O dia a dia de sua equipe mais próxima, o cotidiano entre denunciar o golpe e tentar se manter no cargo e alguns embates com a equipe de filmagem se intercalam. Com Dilma enfim deposta e o palácio já vazio, funcionárias da limpeza ocupam a mesa presidencial e posam umas para as outras numa sessão de fotos improvisada — quem dera elas nunca tivessem saído de lá. A comparação com O Processo e Democracia em Vertigem é inevitável. Dos três, Alvorada é o registro que chega mais próximo da intimidade da primeira mulher eleita presidente do Brasil. Não é pouca coisa.
Horários:
13/4 às 21h e 14/4 às 15h (seguido de debate), na Plataforma Looke
OS ARREPENDIDOS (Ricardo Calil / Armando Antenore / 83min.)
Teatro macabro montado pela propaganda da ditadura militar (com apoio da mídia), os "arrependimentos" de guerrilheiros são episódios até então pouco explorados desde os anos de chumbo. Incômodo e angustiante.
Horários:
15/4 às 21h e 16/4 às 15h (seguido de debate), na Plataforma Looke
MÁQUINA DO DESEJO – 60 ANOS DE TEATRO OFICINA (Lucas Weglinski / Joaquim Castro / 109min.)
Construído em cima de rico material de arquivo, Máquina do Desejo é sobretudo uma aventura pelo coração e a mente de eZé Celso, um incansável parteiro da alma brasileira. Tudo o que eu mais queria era estar numa sala de cinema lotada reagindo coletivamente à cena do diretor do Oficina dirigindo Paulo Maluf como Penteu de As Bacantes.
Horários:
10/4 às 21h e 11/4 às 15h (seguido de debate), na Plataforma Looke
PAUL SINGER - UMA UTOPIA MILITANTE (Ugo Giorgetti, 58 min.)
O privilégio de poder escutar, por quase uma hora, as memórias e reflexões de Paul Singer (1932-2018), professor, militante e economista austríaco radicado no Brasil. A fala serena e as convicções anti-autoritárias são como um teletransporte para uma esfera de debate político de que não se tem notícia atualmente.
De 11 a 18 de abril, na plataforma Sesc em Casa
GOLPE DE OURO (Chaim Litewski, 80 min.)
No mês seguinte ao golpe de 1964, o conglomerado midiático Diários Associados, de Assis Chateaubriand, lança a campanha "Ouro Para o Bem do Brasil". Chaim Litewski, diretor obsessivo do premiado Cidadão Boilesen (2009), investiga o que moveu milhares de pessoas de todas classes sociais a doarem mais de uma tonelada de ouro ao novo regime — e onde foram parar suas doações.
De de 8 a 22 de abril, na Spcine Play
YAÕKWA: IMAGEM E MEMÓRIA (Vincent Carelli e Rita Carelli, 21min.)
Enquanto aprendem a usar equipamentos de filmagem e começam a registrar seu entorno por conta própria, os Enawenê-nawê, do Mato Grosso, reencontram tradições esquecidas de seu povo em imagens antigas trazidas pela equipe do projeto Vídeo nas Aldeias.
10/04 às 13h00 na Plataforma Looke
SER FELIZ NO VÃO (Lucas H. Rossi dos Santos, 12min.)
Ensaio fílmico a partir do movimento de corpos negros nesse espaço sob disputa (simbólica e concreta) chamado Brasil. O discurso é construído via colagem de arquivos e resgate de entrevistas com pensadores como Tim Maia e Mano Brown.
10/04 às 13h00 na Plataforma Looke"
Créditos
Imagem principal: Divulgação