Dira Paes aprendeu a dirigir

por Redação

Dona de um extenso currículo no cinema e na televisão, atriz colhe os frutos de seu primeiro filme como diretora

“Comecei a perceber que tenho uma representatividade como amazônida, mas sou de uma brasilidade que alcança esse país inteiro. São 42 longas-metragens plurais. Agora, quando se fala em TV, só a partir de 2022 o olhar do protagonismo começou a ser ampliado dessa beleza importada que a gente vê por aí”, diz Dira Paes. Dona de um extenso currículo no cinema e na televisão, a convidada do Trip FM desta sexta-feira vive a emoção de colher os frutos de seu primeiro filme como diretora, que também é roteirizado e protagonizado por ela.

Em cartaz nos cinemas brasileiros, “Pasárgada” acompanha o dilema de Irene, uma solitária ornitóloga, profissional dedicada ao estudo de aves, que, durante uma viagem de pesquisa numa floresta remota, passa a questionar sua ligação com o tráfico internacional de animais.

“Eu queria abordar o absurdo do Brasil ser esse grande fornecedor de animais silvestres e pássaros para o tráfico internacional. É um fetiche até hoje. A gente convive com gaiolas e não se admira”, afirma a atriz. “Essa personagem me trouxe outro movimento, algo que não sou muito convidada a fazer. Eu queria essa vilania.”

Dira também está no elenco de “Manas”, longa-metragem premiado no Festival de Veneza que fará sua estreia nacional no Festival do Rio neste final de semana. Gravado na região amazônica, o filme acompanha uma jovem em meio ao cenário de violência na Ilha do Marajó, no Pará.

Na conversa com Paulo Lima, Dira também falou sobre seu ativismo, que precede a carreira artística. “Como vamos dar conta das demandas do Brasil se ficarmos passivos às demandas governamentais? Como vamos transformar alguma coisa se não somos ativistas capazes de criar demandas? O que eu vejo hoje é que a Amazônia precisa ser ouvida através dos amazônidas: artistas, cientistas, todas as excelências do mundo. Não dá pras pessoas irem lá pra falar o que a gente precisa fazer.”

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Trip. Porque decidiu partir agora para a direção?

Eu queria estar presente em todas as etapas da feitura de um filme. Encarei essa minha primeira aventura cinematográfica como uma graduação, quando é preciso estar ao par de toda a artesania do processo. Eu estou muito realizada: colocar um filme na praça é um grande desafio. É um trabalho de uma apropriação do seu desejo ao ponto de você contaminar todos que estão à sua volta.

Como foi desenvolver uma personagem para você mesma interpretar?

Eu estava pensando um lado meu mais lunar, justo eu que sou uma pessoa extrovertida, fui buscando meus avessos. Essa personagem me trouxe outro movimento, algo que não sou muito convidada pra fazer. Eu queria essa vilania.

Com o tempo você a sua beleza virou um ativo muito forte, mas imagino que no começo, quando o padrão de beleza era muito mais europeu, você tenha tido maior dificuldade.

No começo da carreira eu achei que esse meu lado Amazônia era algo que me deixaria em um nicho. Hoje me orgulho de ser um farol para muita gente. Nós não éramos um padrão de beleza, tínhamos uma coisa exótica. Mas eu sempre tive minha autoestima muito bem resolvida, e sempre me achei muito especial. Comecei a perceber que tenho uma representatividade como amazônida, mas trabalhei no Brasil inteiro, eu sou de uma brasilidade que alcança esse país inteiro. São 42 longa metragens plurais. Agora quando se fala em TV, só agora a partir de 2022, o olhar do protagonismo começou a ser ampliado dessa beleza importada que a gente vê por aí.

O quanto você mergulhou nesse mundo do estudo dos passarinhos para fazer esse filme?

Eu queria abordar com esse filme o absurdo que é o Brasil ser esse grande fornecedor de animais silvestres e pássaros para o tráfico internacional. É um fetiche até hoje. A gente convive com gaiolas e não se admira. Não acha um absurdo que eles se autodenominem passarinheiros. Eles são gaioleiros. Os pássaros não nasceram para ficarem na gaiola e nem sozinhos. São animais que vivem em dupla a vida inteira. Dentro de uma gaiola eles não estão cantando, eles estão chorando, sofrendo. Imaginem um bicho que nasceu para voar sobre uma floresta, ficar preso. Como nós vamos monitorar a Amazônia se não for com a ajuda do terceiro setor? Como vamos dar conta das demandas do Brasil se a gente ficar passivo às demandas governamentais? Como vamos transformar se não somos ativistas capazes de fazer demandas? Hoje o que eu vejo é que a Amazônia precisa ser ouvida através dos amazônidas: artistas, cientistas, todas as excelências desse mundo.

Créditos

Imagem principal: Rennan Oliveira / Divulgação

Rennan Oliveira / Divulgação

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