Acredito que a mídia brasileira esteja escrevendo hoje sobre o belo show do João Gilberto no Carnegie Hall - incluindo o tal "ventinho" que ia diretamente sobre sua cabeça, do qual ele reclamou três vezes. Mas estamos aqui pra falar do Human Rights Watch Film Festival, que fica mais uma semana em cartaz aqui. Imperdível. Já vi três. Mas vou falar de dois: o primeiro, "China's Stolen Children", feito por dois documentaristas ingleses (e narrado pelo meu ídolo Ben Kingsley) que filmaram camuflados na China, onde 70 mil, repito, 70 mil crianças desaparecem por ano. Eles foram atrás desta história, documentando pais, traficantes, detetives - e o governo, que só está preocupado com as Olimpíadas; e ainda proíbe cartazes de "procura-se", pelo excesso de crianças sumidas. Vergonha. Depois da mostra, os diretores conversaram com um público perplexo, cheios de perguntas. E o segundo: "Juízo" (foto), em inglês Behave, da brasileira Maria Augusta Ramos. Ela mostra menores infratores no Rio de Janeiro. Uns mataram, outros roubaram. Todos pobres, nenhum branco, e quase todos sem a presença paterna em casa. O documentário usa atores (jovens da mesma realidade social que os infratores) para interpretar os que cometeram crimes, já que eles nao podem ser filmados. Todo o resto é realidade. As cenas no Instituto Padre Severino, onde eles ficam detidos, chocam pela precariedade. Choca ainda a idade e falta de futuro destas crianças.E verdade seja dita: os mauricinhos brasileiros continuam fumando sua maconha - pondo em risco a vida de crianças do morro - e as madames continuam com suas empregadas trabalhando duas semanas sem folga, sem poder ver os filhos - que ficam a Deus dará nas favelas, prontos pra encrencas. Mais vergonha. Desta forma, nem mauricinhos, nem madames (e afins) tem qualquer direito de reclamar da violência. Excuse me, people. Tá na hora de acordar e olhar no espelho. Brasil e China... e ainda dizem que a "economia de ambos vai bem". E daí?