Um jeito Guizé de ser

por Manuela Aquino

O ator revela como concilia seu lado bucólico, a vocação para música e o sucesso na televisão

A vida em um sítio, a expressão do que vê e lê em tinta acrílica nas telas, a música nada comercial. Sergio Guizé, de 39 anos, não segue o roteiro do glamour de um protagonista de novela. Para ele, a vida é mais simples e rodeada de elementos que não estão nos sites de fofoca nem nos stories do Instagram.

Atualmente está na novela das nove, da TV Globo, A Dona do pedaço, no papel de Chiclete, um justiceiro que se apaixona pela mulher que  teria que matar. O vilão descobriu que era mocinho. Guizé e Paolla Oliveira, que faz sua par, Vivi, viraram hit e desbancaram os protagonistas. Sobre este sucesso e o  jeito de viver low profile, ele falou com a Tpm. 

Tpm. O Chiclete teve um destaque na novela e acabou roubando a cena até dos protagonistas. Como vingador, em um primeiro momento, poderia ter o público torcendo contra e não foi o que aconteceu. A que você credita esta virada?

Sergio Guizé. Já estava previsto que ele não iria ter somente o lado “matador”, que ele iria se apaixonar e ver que poderia viver de um outro jeito, que não precisava fazer aquilo, que era se vingar. Além disso, tem a parceria com a Vivi (Paolla Oliveira), que já estava indo bem na novela quando ele apareceu. Também tem o contraponto do Camilo (Lee Taylor), o ex-namorado, para incrementar mais a história. As cenas estão muito lindas, faço uma parceria boa com o Walcyr Carrasco e a Amora Mautner, a gente se emociona e ri muito. Criamos um jogo interessante. Um outro aspecto é que o Chiclete é um personagem solar, diferente do Gael, que fiz em Do outro lado do paraíso, um ser sofrido, trágico. 

Naquela novela, o Gael ficou marcado pela cena em que batia e estuprava a mulher na lua de mel. Ele te deu um outro olhar ou maior consciência sobre a violência contra mulher? A novela me trouxe relatos e fiquei sabendo de muitas histórias, pois a repercussão foi grande. Eu nunca convivi de perto com um cenário de violência doméstica, acho que isso sempre foi algo velado. Depois, com a novela, minha mãe comentou, por exemplo, sobre um dia em que ela saiu de madrugada para ajudar uma vizinha. Foi forte o que aconteceu na novela e ajudou algumas mulheres a falarem, os olhos ficaram voltados para o problema. Criou-se a consciência de que a denúncia é a melhor arma.

O Chiclete também traz a questão da violência, do porte de armas e de um poder paralelo. Ele cresceu e viveu em um lugar sem regras, onde o Estado não está presente e esse poder paralelo que faz "justiça". Eu acho que algumas cenas do personagem são uma alegoria disso. 

Junto com a novela você lançou um álbum com sua banda de punk rock, Tio Che. Como foi o processo? Eu gravei o disco enquanto gravava a novela anterior. São oito faixas, todas inéditas. O álbum se chama Tudo sagrado e estamos fazendo alguns shows. Toquei outro dia em São Paulo, na Rua Augusta. Tento conciliar, mas trabalho muito aos finais de semana. Desta vez viajei na quinta, toquei, voltei e já fui gravar. Eu tenho um esquema que é estudar todo o roteiro domingo, deixo tudo preparado. Pego um dia antes para terminar de decorar e fica mais fresco na cabeça. Se não conseguir ler o que tenho para o dia de gravação, eu nem durmo.

Quais são suas influências musicais, o que você gosta de ouvir? Gosto muito de Ramones, minha referência punk. Amo rock, David Bowie, Bob Dylan e Guns n´ Roses. Adoro Belchior. Curto muito jovem guarda, a gente faz cover de "Menina linda", "Ele é o bom" e "Pode vir quente". Também colocamos no repertório versões de "Geração Coca-cola" ,do Legião Urbana, e "Até quando esperar", da Plebe Rude. A banda é uma vertente do punk rock, com um som bem sujo mesmo. 

Você também pinta. Tem conseguido produzir no meio dessa correria de show e gravação? Estou cheio de telas para pintar em casa, mas aqui no Rio de Janeiro, por conta da novela, é mais difícil. No meu sítio, às vezes, chego a pintar umas dez telas de uma vez. Leio um livro, fico com aquilo na cabeça e foi. Faço telas com pegada impressionista, algumas de pop art. Gosto muito de Van Gogh e Basquiat, mas faço também trabalhos abstratos ou de anatomia humana. Gosto que seja natural, o que vier, não gosto de me programar. Há mais de 60 telas minhas à venda em São Paulo. Sou sócio de um ateliê chamado sala 33, no Cambuci, em São Paulo, junto com meu amigo Célio Alves, que é curador. O espaço é para fomentar todo tipo de arte, não há programação fixa, tem ensaio de teatro, oficinas de música... 

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Você está morando no Rio em uma casa do Lima Duarte. Foi também ele quem te ajudou a comprar o sítio onde você mora. Como nasceu esta amizade? Há uns sete anos, fui na casa dele, convidado por sua neta e minha amiga, Karina Maluf. Depois nos reencontramos em Do outro lado do paraíso. A gente passou a conversar muito, temos muita coisa em comum. Ele me contava do teatro Arena, das viagens que fez para outros países para se apresentar, ele passou por muita coisa. Ele ama música também, tem um ótimo gosto, é apaixonado por música italiana. Ficamos amigos. Agora ele me ofereceu a casa dele para eu ficar, no bairro do Recreio, e a Globo alugou enquanto eu estou aqui no Rio de Janeiro gravando. É bom, fico quietinho, estudando, chicletando [risos] com meus cachorro Chicão, Gustavo e África.

Um sítio no interior de São Paulo, longe da badalação dos famosos, é o lugar onde você e a Bianca Bin escolheram para morar. Como é sua rotina lá? Geralmente durmo cedo, acordo cedo, faço meditação. Depois vou mexer na horta, dar uma volta com os cachorros, pegar fruta. Gosto muito de colocar a mão na terra, quando eu cheguei no sítio já tinha muitas árvores, mas já plantei mais de vinte. Amo mexer no jardim e fico pintando uma boa parte do tempo. Me conecto com a terra e, espiritualmente, fico muito mais calmo e feliz.

Créditos

Imagem principal: Fabio Audi/Divulgação

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