por Ana Luisa Abdalla

Catharina criou o Sai Pra Lá com o dinheiro de sua formatura, mas foram tantos acessos que foi necessário abrir um financiamento coletivo pra mantê-lo a todo vapor

"Eu pensei 'vou responder, vou responder, vou responder'. Mas acabei não respondendo, porque fiquei com muito medo do que ele poderia fazer comigo". O relato de Catharina Dória, 17 anos, é familiar para muitas mulheres. O assédio em questão foi há 4 meses, enquanto ela andava na rua. Desde então, a sensação de que algo deveria ter sido feito não passou.

Ao final do seu último ano no colégio, enquanto as conversas sobre a formatura enchiam o corredor, Catharina viu uma oportunidade de colocar sua inquietação em prática. Chamou dois amigos que entendiam um pouco mais de tecnologia com a proposta de um aplicativo para mapear assédios como o dela e tantos outros. "Eu disse que não tinha dinheiro algum, só uma ideia, e perguntei se eles topariam me ajudar", conta. 

Foram dois meses de trabalho que só conseguiram sair do papel quando ela fez uma proposta para sua mãe: "você aceitaria trocar minha viagem de formatura pelo meu aplicativo?"

Depois de questionar se a filha tinha realmente certeza da decisão, o pedido foi aceito e catharina conseguiu desenvolver e finalizar o app, que ganhou o nome de Sai Pra Lá. No último dia três de novembro o projeto foi enviado para aprovação das distribuidoras e o resultado foi positivo, mais de 2600 likes em 12 horas, como conta a criadora.

“O app já teve mais de 30 mil downloads e 5 mil assédios registrados”
Catharina Dória

O Sai Pra Lá está disponível para o Brasil inteiro e pra registrar seu assédio — seja ele físico, verbal ou sonoro — basta escrever o endereço e classificar o que aconteceu. "O problema foi que o acesso ao aplicativo foi tanto, que quando 200 pessoas estavam registrando ao mesmo tempo, ele caiu. Na hora de escrever a denúncia, ela não conseguia ser marcada no mapa".

Devido ao boom, Catharina organizou um crowdfunding pra conseguir arrecadar o suficiente para fazer as mudanças que o aplicativo, feito "da forma mais barata possível", precisaria. O pedido inicial foi de 5 mil reais, e em 4 dias a meta já tinha sido ultrapassada. "Com esse dinheiro a gente vai contratar um profissional para fazer as melhorias necessárias para suportar todos os acessos", afirma.

Ela, que se considera "feminista, sim", diz que o app já teve mais de 30 mil downloads e 5 mil assédios registrados. Mas ela não ainda não se contentou: "Tudo o que sobrar do financiamento coletivo vai ser revertido para melhorias. Queria ampliar algumas coisas na denúncia, como o horário que ela aconteceu, por exemplo". Outra mudança planejada é incluir as linhas de metrô como locais para registro.

Vai lá: facebook.com/appsaiprala

 

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