Relato de uma camgirl de primeira viagem na quarentena
Impedida de trabalhar como garota de programa durante a pandemia, Naomi Campos narra os perrengues e descobertas de se virar como camgirl
Logo nas primeiras semanas de quarentena, começaram a pipocar notícias de que algumas camgirls (como são chamadas as mulheres que se exibem de forma sensual para câmeras na internet) estavam bombando. É o caso da ex-BBB e youtuber Clara Aguilar, que viu seu faturamento dobrar nas transmissões da plataforma Câmera Privê. Vale dizer que ela trabalha com isso há mais de uma década e acumula 1,3 milhão de inscritos em seu canal no YouTube.
Mas, para quem está começando e não tem milhares de seguidores nas redes sociais, não é tão animador assim. Enquanto a ordem é o distanciamento físico, trabalhadoras do sexo buscam um lugar ao sol nesse mercado. É o caso de Naomi Campos, que narra à Tpm os perrengues e descobertas de se tornar camgirl em meio à pandemia.
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"Eu tenho 24 anos, sou trabalhadora sexual, técnica em audiovisual e tenho um brechó on-line também. Minha maior renda vem do trabalho como puta e Naomi Campos é meu nome de guerra. Eu gosto muito do assunto, trabalhar com isso não é um sofrimento. Pelo contrário, se tornou algo especial na minha vida, que me ajudou a superar uma depressão e a falta de grana. Como todo trampo, tem dias em que você está afim e tem dias em que não está, o importante é realmente gostar daquilo que faz. Eu consigo clientes pagando por anúncios em sites de acompanhantes, como o GPFace, desde 2018. Ganho, em média, R$ 300 por hora.
“Percebi que me manter assídua on-line é muito difícil. A competição por atenção é muito grande”
Naomi Campos, camgirl e trabalhadora sexual
Com o boom da Covid-19, sem poder atender presencialmente, comecei a ser camgirl pela plataforma Câmera Privê e a vender materiais on-line. Não tem como, as contas chegam e uma hora você tem que fazer isso. A ideia de fazer lives como camgirl é simples, a princípio: precisa ter uma webcam legal, internet boa e um espaço onde você tenha privacidade para gravar, que não é o caso de muitas meninas que eu conheço, que moram com os pais, por exemplo. Eu moro sozinha e minha família sabe sobre meu trabalho, então, é tranquilo.
A preparação para a transmissão é mais simples do que para um encontro presencial, não tenho que me montar tanto. Faço uma make basiquinha, mais natural, porque na webcam não dá pra ver muitos detalhes. Às vezes passo um óleo corporal para reluzir. Moro sozinha em um apartamento de 30 metros quadrados e meu quarto fica no mezanino, onde eu gravo as lives. É um cenário de descontração e relaxamento, com luzinhas na parede, telas que eu pintei, abajur (que, além de decorar, ajuda na iluminação), almofadas e travesseiros para dar um ar de conforto, algo no estilo "boho". Antes de começar, deixo por perto meus brinquedos, como vibradores e plug anal, caso alguém entre num chat pago comigo.
A transmissão no Câmera Privê funciona assim: eu ligo a câmera e já fico on-line no chat grátis, que é aberto a todas as pessoas que quiserem me conhecer. Nessa fase, não posso ficar pelada e, se alguém quiser me ver nua, recebo uma solicitação para alguma das categorias de chat pago. Esses chats variam de preço conforme o tanto que quero mostrar e fazer, dentro do que eu me proponho. O desafio maior é prender a atenção do cliente, que pode se desconectar do meu chat a qualquer momento.
Dá pra ganhar entre R$ 0,90 e R$ 2,75 por minuto e eu posso escolher o valor que quero receber dentro desses parâmetros. Como estou começando e ainda não sou conhecida nesse meio, uso um valor um pouco abaixo do máximo. Conforme minha popularidade for aumentando, eu vou subindo o valor. Não pago para usar a plataforma e acredito que eles tiram alguma porcentagem antes de me repassar o dinheiro que ganhei com as lives.
Na primeira semana, eu fiquei entre 8 e 9 horas on-line para tirar pouco mais de R$ 100 E ainda ficava com uma baita dor nas costas por ficar muito tempo na mesma posição, tipo, empinadinha. Percebi que me manter assídua on-line é muito difícil. Além de ser desgastante ficar o tempo todo em frente à câmera, a competição por atenção é muito grande. Eu tenho visto matérias que dizem que as camgirls estão bombando e enchendo o bolso de dinheiro na quarentena. Mas as que fazem sucesso são camgirls há anos, têm uma base de fãs na internet, algumas também são atrizes pornô. O camming [exibição sensual por câmera] pode gerar uma grana boa a longo prazo, mas para alguém que está começando agora, como eu, não é tão vantajoso assim.
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“O meu propósito é não ser só mais uma mina na cam, é que eles me conheçam como alguém que gosta do que faz”
Naomi Campos, camgirl e trabalhadora sexual
É claro que eu tô na minha casa, tenho mais segurança, meu corpo não está exposto fisicamente. Mas sinto falta de encontrar os clientes, de saber quem são. Em pouco mais de um mês como camgirl, poucos homens abriram a câmera para eu ver quem eram. Acho que uns três, entre 24 e 35 anos. Queriam que eu visse que eles estavam com tesão ou gozando, tudo muito rápido. Em geral, querem falar de putaria, mesmo, não rolou nenhuma conversa mais profunda.
Como não dá pra fugir do sexo virtual, tenho ficado de 2 a 4 horas on-line algumas vezes por semana e chego a tirar, em média, R$ 35 no dia, mas varia muito. No resto do tempo me dedico ao NaomiFlix, uma alternativa que criei para vender conteúdos exclusivos para clientes antigos e novos, através do meu canal no Telegram. Por meio de uma assinatura mensal de R$ 50, eles recebem pacotes diários com áudios, vídeos e/ou fotos minhas. Eu narro ou escrevo contos eróticos, relatos de experiências sexuais, gravo vídeos performando algum fetiche (como a chuva dourada e a inversão, por exemplo), mando dicas de pornografia alternativa. Hoje, o NaomiFlix é o que gera a maior parte da minha renda e tenho 15 assinaturas até o momento. Alguns clientes antigos não me abandonaram na quarentena e seguem me ajudando com esse formato.
Para mim, o trabalho como camgirl é mais uma ferramenta para atrair clientes para outras redes sociais, os perfis que eu mantenho no Instagram, Twitter e Telegram e, claro, ganhar algum dinheiro. Nessas redes, a gente vai criando um vínculo, peço feedback, sugestões. O meu propósito é não ser só mais uma mina na cam, é que eles me conheçam como alguém que gosta do que faz, que pode levar o sexo pra um lado leve e divertido."