Fechado ou aberto? Monogâmico ou livre?
Regina Navarro Lins, no Path 2018: “As pessoas vivem muito mal por sentirem culpa em relação aos próprios desejos"
Regina Navarro Lins chegou na última tarde de Festival Path para ministrar a palestra “O futuro dos relacionamentos” acompanhada da jornalista Milly Lacombe, no auditório do Instituto Tomie Ohtake. O Festival Path de 2018 reuniu cerca de 20 mil pessoas em dezenas de palestras, shows, oficinas, na região de Pinheiros, em São Paulo.
A proposta do festival é discutir inovação sob diversos olhares, de forma inclusiva, segundo Fábio Seixas, empreendedor e agitador que cultural que criou o Path, há seis anos. “É um fórum onde todo mundo se respeita e tá disposto a trocar ideia e quebrar seus paradigmas, num ambiente de respeito e com muito conteúdo profundo”, explicou Fábio à Tpm.
Diante de uma sala lotada, a psicanalista e escritora trouxe reflexões sobre novos formatos de relacionamentos dispensando moralismos e desafiando até as mentes mais abertas para o assunto. “Vale a pena seguir regras que vêm de 5 mil anos de patriarcado? Precisamos refletir sobre nossas crenças e escolher a vida que queremos ter”, propôs, no início da conversa.
Regina vem reunindo relatos em seu consultório sobre como as pessoas lidam com assuntos como amor, sexo e monogamia e traição. Seu último livro lançado em outubro de 2017, é intitulado Novas formas de amar (Planeta) e aborda poliamor, relacionamento aberto, vida a três (ou trisal), apps de paquera e os desafios que esses arranjos trazem em um contexto ainda marcado pelos ideais de amor romântico e exclusividade sexual. “As pessoas vivem muito mal por sentirem culpa em relação aos próprios desejos. A mentalidade patriarcal mutilou homens e mulheres”, afirma ela.
Embora sejam temas cercados de tabus, ela acredita que nunca se viveu tão bem, se olharmos para os relacionamentos numa perspectiva histórica. A fertilidade da mulher foi controlada pelo sistema patriarcal por cinco milênios – por motivos econômicos, religiosos e ligados à manutenção da propriedade – e a pílula anticoncepcional veio para quebrar paradigmas, iniciando o que ela considera uma verdadeira revolução.
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“O homem se assusta com a autonomia da mulher?” Questionou uma pessoa da plateia. Regina respondeu que sim, à medida que ele ainda está preso aos estereótipos de que deve ser o provedor e dominador da relação. “Os homens que já se libertaram do mito da masculinidade curtem a mulher autônoma”, comenta ela. Hoje é fundamental repensar certos clichês sobre masculino e feminino: “Repetir frases como ‘homem não chora’ ou ‘mulher não é boa em matemática’, por exemplo, influencia em muitas de nossas escolhas”, explica.
A curiosidade geral do público naquela tarde foi o relacionamento aberto: como enfrentar o ciúme? O que fazer se um parceiro ou parceira tiver um caso? Qual o limite do envolvimento? Para iniciar o debate, Regina apontou a necessidade de se repensar a exclusividade sexual, entender que ela não é obrigatória e nem necessariamente boa para os envolvidos.
“Claro que existem códigos, como em qualquer relação, mas o principal é entender que fidelidade não tá ligada à exclusividade”, explica a psicanalista. “Em um relacionamento aberto são duas pessoas, cada uma com sua vida sexual, que mantém parte da vida em comum. O que fazem quando não estão juntas não deve ser um problema”.
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Ao ser questionada sobre como iniciar relacionamentos de uma forma mais saudável, sejam eles monogâmicos ou não, Regina não trouxe fórmulas milagrosas, apenas sugeriu o caminho da espontaneidade: “Seja você mesmo, sem a preocupação de fazer tudo para agradar o outro”.
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