Da origem da camiseta de protesto aos sapatos de Carmen Miranda, a plataforma digital We Wear Culture conta histórias da moda
Você, como muita gente que gosta de moda pelo mundo, pode não ter tido a chance de visitar a tão falada retrospectiva de Rei Kawakubo, estilista à frente da Comme des Garçons, em exibição no Metropolitan Museum, em Nova York. Porém, ela está a um clique de seu mouse graças ao We Wear Culture, plataforma do Google que já digitalizou mais de 400 exposições de moda.
Essa digitalização começou a se concretizar em 2011, quando a empresa colocou no ar o Arts & Culture, projeto criado dentro do que a Google chama de 20%, iniciativa que permite que seus funcionários dediquem parte de seu tempo para desenvolver ideias próprias. Naquele ano, 17 museus — como a Tate Gallery (Londres) e a Galleria degli Uffizi (Florença) — embarcaram no projeto, digitalizando e disponibilizando suas coleções. Hoje, o Arts & Culture conta com mais de mil instituições parceiras, em 70 países, disponibilizando cinco mil exposições e seis milhões de fotos, vídeos, documentos que tratam de temas que vão da street art à história dos direitos civis.
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Em junho passado, a plataforma (também disponível em app) deu um passo em direção à moda — muitas vezes vista com desconfiança — , com o We Wear Culture. "A moda é muito mais profunda e significativa do que imaginamos", defende Luisella Mazza, chefe de operações do Instituto Cultural do Google. Importantes museus do segmento como o Les Arts Decoratifis (Paris) e o Victoria and Albert Museum (Londres) aderiram — hoje são 180 instituições, de 42 países, que oferecem mais de 30 mil documentos.
Entre os 11 parceiros brasileiros, estão o Instituto Moreira Salles, que mostra a trajetória de Otto Stupakoff, pioneiro na fotografia de moda do Brasil, e o MASP, que digitalizou a coleção de peças da francesa Rhodia, que divulgava seus fios sintéticos no Brasil com grandes desfiles. "Com este projeto, as pessoas tiveram acesso pela primeira vez ao acervo da Carmen Miranda, com informações detalhadas, como a altura do salto de suas plataformas — alguns com mais de 20 centímetros!", conta Luisella.
O We Wear Culture reúne mais de 700 imagens em ultra-resolução (no Brasil, inclui os desenhos do Alceu Penna, por exemplo) tiradas pela Art Camera, com detalhes que podem passar desapercebidos a olho nu. Também é possível ter quatro experiências em realidade virtual (em vídeos de 360º) com peças icônicas da moda, como é o caso do vestido preto de Coco Chanel, ou o espartilho de Vivienne Westwood. A seguir, quatro destaques para você visitar — dá para se perder por horas pela plataforma:
A evolução da moda de rua de Tóquio (1980-2017)
A linha do tempo resgata o estilo preppy japonês (inspirado nos uniformes de colégios de elite) e dos "corvos" (como ficaram conhecidas as mulheres que vestiam preto da cabeça aos pés) do início dos anos 80 à influência do Cosplay na segunda década dos anos 2000. Entre tantas tribos e códigos, fica claro por que o street wear de Tóquio é uma dos mais efervescentes do planeta. Se vocês quiser seguir pelas ruas, relembre a história do movimento punk no Reino Unido.
O sucesso de Victoria Beckham como estilista
Entre as histórias de pesos-pesados da moda como Cristóbal Balenciaga ou Alexander McQueen, disponíveis na plataforma, uma exibição do British Fashion Council mostra como a ex-Spice Girl se tornou uma estilista de destaque da moda britânica, premiada duas vezes pelo British Fashion Awards. Sua grife homônima, criada em 2008 e que carrega uma assinatura moderna, tem peças disponíveis em 400 lojas em 50 países. Torceu o nariz? Então navegue então pela moda sustentável de Stella McCartney, uma unanimidade da moda britânica.
A camiseta de protesto
Katharine Hamnett foi a criadora da t-shirt com slogan nos anos 80, chamando a atenção — em letras garrafais — para a situação da África ou para a questão ambiental. A inglesa, uma das principais estilistas da década, conheceu Margaret Thatcher em 1984 vestindo uma camiseta com mensagem antimíssil: "Finalmente, algo original!", escutou da então primeira-ministra em uma recepção do governo. Katharine também foi uma das pioneiras da sustentabilidade na moda, hoje tão em voga, e ajudou a lançar a carreira de fotógrafos como Terry Richardson e Juergen Teller com suas campanhas publicitárias.
Carmen Miranda e sua baixa estatura
Com apenas 1,53 m, a Pequena Notável usava saltos altos desde sua adolescência para disfarçar a baixa estatura. Sua assinatura era a plataforma, inspirada nos tamancos portugueses (Carmen nasceu em Marco de Canaveses). Não à toa, ela ajudou a popularizar o sapato do platô na década de 30. Suas bijuterias também eram encomendadas a fim de valorizar sua estatura, como mostra essa exposição do museu Carmen Miranda, que relembra diversos itens de seu figurino.
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