Pitty lança série VideoTrackz no Instagram e foge das lives
Confinada, a cantora produz minissérie com onze pequenos clipes que dialogam com o contexto da pandemia de Covid-19
Fugindo das onipresentes lives, Pitty lança hoje, 15 de abril, a minissérie VideoTrackz, com pequenos clipes pensados para o Instagram. "Me veio uma onda de dialogar com esse espaço com o qual estamos convivendo mais do que nunca: a nossa casa". Ela criou pequenos roteiros para cada uma das faixas de seu último disco, Matriz, e produziu os clipes sem sair de seu confinamento. "Meu desafio foi fazer vídeos interessantes que falassem sobre a minha obra, mas que trouxessem um panorama da situação atual". A ideia surgiu também como solução para atender aos frequentes pedidos dos fãs por novos conteúdos. "Tem que respirar um pouco e não ceder à ansiedade da live, live, live, live. Acho que pode banalizar, tem que fazer direito", pondera.
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Pitty está passando a quarentena com o marido, o músico Daniel Weksler, e a filha, Madalena, de 3 anos. "A individualidade faz falta. Eu particularmente sempre prezei pela solitude. Ficar sozinha com meus pensamentos é um combustível importante para a criação. Então tenho que encontrar alternativas, entrar no quarto, fechar a porta e falar: 'galera, finjam que eu não estou aqui'. Colocar o fone de ouvido e, já que a gente não consegue sair e ir para fora, a gente tem que sair para dentro, encontrar outro lugar além desse em que estamos todos os dias", diz. Trocamos uma ideia com a artista sobre suas decisões nesses tempos tão incertos.
Tpm. Qual o lance por trás da VideoTrackz?
Pitty. Me veio uma onda de dialogar com esse espaço com o qual estamos convivendo mais do que nunca: a nossa casa. A série é uma conversa do meu disco, Matriz, com o espaço do confinamento. Criei roteiros fáceis de executar em casa com poucos elementos e muito baseados no do it yourself. Encontrar criatividade nas coisas simples tem tudo a ver com o agora. Estamos pensando sobre o que a gente realmente precisa. Meu desafio foi fazer vídeos interessantes que falassem sobre a minha obra, mas que trouxessem um panorama da situação atual. São onze microrroteiros e cada um tem uma sensação diferente. Tudo foi filmado com celular, com as linguagens presentes nas redes. Uma música é um surto de medo, outra tem a ver com solidão, outra sobre dançar. As letras e as sensações das músicas do disco foram guiando os roteiros.
É um projeto super ligado ao universo digital, que está vivendo um boom neste cenário de isolamento. Você pensa sobre os prós e contras dessa relação? Acho que é um momento para pensar sobre a relação com digital porque ela está se impondo como nossa única janela com o mundo lá fora. Mesmo antes da pandemia já havia conversas sobre a questão da tecnologia na nossa vida, sobre o quanto isso poderia ser um gatilho para ansiedade. Mas a tecnologia tem ajudado as pessoas a se conectarem. Por outro lado, na minha rotina, procuro não ficar o tempo inteiro conectada. No começo da quarentena estava todo mundo muito desesperado para colocar as coisas na rua, todo mundo on-line ao mesmo tempo. Era aquele meme do medo de abrir a geladeira e encontrar uma live. Senti uma ansiedade grande de todo mundo por estar ali, por existir. Passado esse primeiro momento e uma certa banalização da questão da live, acho que a gente vai repensar. Acho que vale a pena fazer parte do mundo virtual quando há um motivo. Não tenho vontade de ligar e ficar ali falando, preciso de uma outra motivação. Eu tenho casa para cuidar, filho para criar, tem as paradas para fazer. Eu gosto quando crio e compartilho, e aí o digital é incrível. Então quem curte meu som e queria ver alguma parada na quarentena, tá aí a minissérie do Matriz, para compartilhar e para conversar sobre, para entreter e fazer pensar.
Você já fez alguma live? Não. Rolou uma do Saia Justa, que é o programa do qual eu faço parte, na GNT. Estou pensando muito sobre esse lance da live, o que vale a pena, como, quando. Tem que respirar um pouco e não ceder à ansiedade da live, live, live. Acho que pode banalizar um pouco, tem que fazer direito.
Tem sido difícil estar isolada? Está tudo oscilando muito. Uma hora a gente sabe uma coisa, outra hora outra. Não só pelas notícias externas, mas pelo contexto interno. A vida que tínhamos estabelecido para nós mesmas não existe mais. Estamos tendo que reinventar nossas rotinas e nossas relações. Já passei por vários estágios esse mês. É normal, porque é um momento de desequilíbrio, de incógnita, de não saber até quando. São muitas perguntas sem resposta e lidar com esse não saber é angustiante. Então é um dia de cada vez.
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Rolaram duas coisas bem impactantes: perder a vida fora de casa e precisar lidar com uma vida dentro de casa muito mais intensa. Como você tem lidado com marido e filha durante o processo? É uma descoberta constante e diária. A gente não tem precedente nem manual, nada nos preparou pra isso. Tem que aprender fazendo, como na maternidade. Estamos tendo que cuidar de uma vida nova. A gente passa por momentos muito ternos, de afeto e intimidade profundos, dessa coisa de estar em família de um jeito que realmente nunca estivemos antes. Mas passamos também pelo momento 'gente, pelo amor de deus, eu queria só poder ficar em silêncio'. Então tem de tudo. Eu acho que rotina é um lance que tem ajudado muito aqui em casa. Nada muito rígido, para não rolar neurose, mas marcos que nos situem na semana e no dia. Outra parada é se manter ativa. Eu tenho feito exercícios diariamente. Vou mudando de acordo com meu mood, desde aula de ioga até balé fitness, ou colocar um som e ficar dançando. O importante pra mim é me movimentar. Sinto que minha cabeça fica mais legal.
A individualidade faz falta? Faz falta, cada um precisa ter sua onda. Eu particularmente sempre prezei a solitude. Ficar sozinha com meus pensamentos é um combustível importante para a criação. Então tenho que encontrar alternativas, entrar no quarto, fechar a porta e falar: 'galera, finjam que eu não estou aqui'. Colocar o fone de ouvido e, já que a gente não consegue sair e ir para fora, a gente tem que sair para dentro, encontrar outro lugar além desse em que estamos todos os dias. Se não você acorda e todo dia é o mesmo.
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