Nevou a noite e o Himalaia acordou branquinho.
O vento era tão forte que me acordou, até parecia uma música, sério!
Madrugada gelada, eletricidade cortada, filha dormindo quentinha. Voltei a dormir. De manhã, como todos os dias, saí atrasada para levar a Graziela para a escola. Entre uma bronca e um beijo na minha filhota, olhei para o lado e vi a montanha quase branca. Coisa mais linda! Moro na Índia, em Moli, um vilarejo com uma poucas dezenas de pessoas e muitas dezenas de vacas. Moro no norte da Índia, aos pés do Himalaia. Sou vizinha do topo do mundo. Todas as vezes que eu olho para as montanhas mais altas do planeta, elas estão ensolaradas enquanto o resto está na sombra. Parece um sonho. Tudo bem, tem um monte de filmes, livros, fotos e lendas sobre essas montanhas mágicas, mas eu só vou acreditar que elas existem no dia que eu pisar na sua superfície e comer um pouco de neve. Acho que vou me jogar no chão e ensinar a Gra a fazer um anjo na neve. E depois gritar para ouvir meu eco. O budismo ensina que tudo o que a gente experimenta é um eco da nossa mente. Como será o eco lá em cima? Esse tem que ser um encontro perfeito, vou ter paciência e esperar a montanha ficar mais branquinha. Himalaia é uma palavra em sânscrito e quer dizer morada da neve, então quando nevar mais, vou alugar um carro para levar a Gra conhecer a neve na casa dela. Porque aqui a neve não é apenas água congelada e a montanha não é apenas uma rocha alta. Não aqui no Himalaia. A montanha e a neve são seres mágicos que realizam desejos. E essas coisas a gente respeita.