O escritor e roteirista Doc Comparato escreve o roteiro original para um filme estrelado por sua filha, Bianca Comparato
Encontrei em Joana D’Arc a protagonista ideal para ser vivida por Bianca. E, se alguém perguntar por que, tenho todas as respostas. Ambas eram crianças divertidas, mas muito responsáveis com os seus afazeres. Naquele tempo, 1422, a França era um reino acéfalo e a Inglaterra aproveitou esse momento para invadir o norte francês. É como atualmente se encontra o Brasil; acéfalo, sem um verdadeiro poder constitucional, numa transição do nada para o vazio político.
E aquela menina cresce nesse cenário, e aos 12 anos escuta a voz de Deus, isto é, do seu destino, avisando que ela teria a missão de salvar a França e comandar seu exército na Guerra dos Cem Anos.
Bianca tem o tipo físico (physique du rôle) ideal para a personagem. Corajosa, destemida e linda, é capaz de ser uma menina oprimida como em Anjos do sol, uma adolescente sofrida e lutadora como na série Sessão de terapia, uma freira repleta de fé e frescor como em Irmã Dulce ou ainda uma mulher tenaz como na série A menina sem qualidades. Possuindo, portanto, toda a carga emocional para viver o arco dramático de Joana D’Arc.
Superprodução que começa na infância, quando, aos 12 anos, disse que ia salvar a França, vencer uma guerra e coroar um novo rei. A corte, frente ao reino despedaçado, recebe Joana, que jura que irá fazer de sua força interior e desejo uma realidade histórica. Joana D’Arc recebe uma espada, uma armadura, um estandarte e o comando geral do exército francês. Até hoje é um mistério como ela conseguiu em tão pouco tempo sair do interior da França para se tornar uma grande estrategista e dominar os campos de batalha.
“Bianca possui toda a carga emocional para viver o arco dramático de Joana D’Arc”
Doc Comparato
Joana ataca a região de Orleans à frente do seu exército. Certamente Bianca faria muito bem as cenas de luta, pois, apesar de seu corpo aparentemente frágil, ela é ágil e seu olhar detona uma força interior imbatível. Posso ouvi-la avisando aos inimigos: “Ingleses, os senhores não têm nenhum direito de pisar no solo francês. E o Rei dos Céus ordena e manda por mim, Joana, a donzela, que deixem suas fortalezas e retornem ao vosso país, caso contrário, eu o farei, derramando o meu próprio sangue”.
A princípio, os soldados estranham e não reconhecem nela um verdadeiro general. Todavia, ela era uma grande guerreira e excelente estrategista. Consegue empreender em pouco tempo várias e diversas batalhas vitoriosas. É como Bianca; capaz de mudar de uma personagem a outra com profundidade, desprendimento e talento.
O meu roteiro para esse filme pede uma superprodução, recheada de efeitos especiais, cenários grandiosos e uma armadura prateada, principal figurino para Bianca. Sua espada rasga os céus e reflete o brilho do firmamento. Seu rosto suave se transforma na máscara da grandeza.
Todas as batalhas que comandou marcaram a história como o fim da Guerra dos Cem Anos: a França sai vitoriosa, expulsa os ingleses e refaz o seu reino. Joana D’Arc é reconhecida como uma heroína imbatível. Mesmo manchada do sangue inimigo, ela se ajoelha frente ao sol e abre seus braços, como quem consegue abraçar o universo.
Então surge a traição e a inveja, em cenas em que Bianca mostra outra faceta do seu talento. Recebe os sentimentos humanos mais mesquinhos, como o início de uma nova estrada para percorrer. Os nobres franceses, representados pelo rei Carlos V, temerosos do poder e da popularidade de Joana D’Arc, traem sua heroína e a entregam para os ingleses. Joana é morta queimada em uma fogueira, sob a acusação de bruxaria. Mas é justamente nesse instante que nasce o imprevisível: sua morte passa a ser idolatrada e ela se torna um mito e, por fim, é consagrada como santa e elevada a padroeira da França.
Créditos
Imagem principal: Arquivo pessoal